terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Capítulo 8

Subi para meu quarto, peguei o material que havia comprado na livraria e tentei começar a decorar o novo caderno, mas não consegui. Não tirava da cabeça a maldita mensagem de Gustavo. Mais uma vez conversei sozinha dizendo para mim mesma voltar ao foco e para não pensar no que Gustavo e Marcelo conversaram. Mas não estava conseguindo pensar em mais nada, além disso. Se eu respondesse aquela mensagem seria como me “render” a insistência dele, mas por outro lado se eu não respondesse com certeza ele mandaria outras mensagens que me deixariam mais e mais curiosa. Dúvida cruel! Não sabia mesmo o que fazer e nem customizar o novo caderno seria o suficiente para me fazer esquecer isso e me acalmar.
Quando me dei por mim já estava descendo as escadas para pegar o celular e respondê-lo. Ainda bem que nesse meu momento de fraqueza Letícia surgiu como por um encanto falando no telefone com Marcelo. Ela ainda continuava com o comportamento estranho comigo e tentando enrolar Marcelo com a conversa inteligente sobre literatura que não era seu forte. Quando Letícia coloca algo na cabeça não a ninguém que a faça mudar de ideia e para aprimorar sua nova personalidade a vi pesquisando sobre o assunto em vários sites e revistas, mas é claro que para tudo ser mais realista ela precisava das minhas informações como ironicamente eu precisava das dela. Qualquer deslize ou palavra a mais seria a chave para desvendar todo o mistério se ela estaria por trás do desaparecimento do meu caderno. Nunca quis que minha irmã me perguntasse alguma coisa tanto quanto eu queria naquele momento, pois se a atitude partisse de mim e eu começasse a conversa, ela poderia achar estranho, desconversar e aí meu plano iria por água abaixo. Pelo menos minha vontade desesperada de responder a mensagem de Gustavo passou e eu pude refletir em como seria ruim se eu tivesse mesmo enviado a resposta. Sabia que a qualquer instante eu poderia receber mais uma que me deixaria mais intrigada e curiosa, mas deixei para pensar nisso quando acontecesse e voltei para meu quarto para enfim começar a decoração da nova capa. Desliguei meu celular, pois não queria que no meio do meu processo de criação eu fosse surpreendida com uma nova mensagem que com certeza faria que eu perdesse a calma novamente e talvez até ter o impulso de respondê-la, até porque aprendi bem cedo que existem coisas na vida em que por mais que despertem curiosidade e te faça querer descobrir mais e remexer em algo é melhor ignorar e deixar a tarefa de resposta ao tempo para não se arrepender depois. Digo isso porque uma vez aconteceu meio que assim comigo e provavelmente se eu insistisse nessa história poderia acontecer novamente. Mas ignorar não me tirava o direito de elaborar hipóteses sobre como teria sido a tal conversa se é que ela existiu de verdade ou seria apenar um argumento numa tentativa desesperada de Gustavo querer que o respondesse. Minha primeira hipótese e talvez a que tenha mais fundamento foi que Marcelo disse a Gustavo que eu era sem graça e que não conseguia descobrir como o melhor amigo dele foi se interessar por mim e fez várias piadas cobre o assunto que obviamente ele não me contaria e diria apenas que Marcelo não gosta de mim. Mentira!Talvez ele contasse da forma que Marcelo disse ou até acrescentaria novos detalhes para ficar pior.A segunda hipótese e a menos improvável e mais ridícula era que Marcelo teria gostado da ideia e de que seria bom que nós dois ficássemos juntos porque afinal de contas Gustavo era seu melhor amigo e eu a irmã de sua namorada.Depois de elaborar essa alternativa ri muito de mim mesma pois essas palavras jamais sairiam de Marcelo e eu não me imagino saindo nós 4 em casais felizes pelo bairro, até porque não me imagino nem namorando.Sei que é estranho para alguém que já está a algum tempo na adolescência como eu não ter casos e namoros para contar para ninguém e achava estranho até esse possível interesse por mim vindo da parte de Gustavo. Confesso que namorar de verdade nunca namorei, mas já tive alguns amores platônicos tristes que não terminaram bem. Quando era mais nova gostava de um garoto da minha mesma classe, mas eu era motivo de piada para ele que me achava uma estranha e tive que sofrer sozinha quando ele começou a namorar com a garota que eu mais odiada e considerada por eles a mais bonita da sala. No ano seguinte quando havia superado a história do ano anterior me apaixonei por um garoto que sentava do meu lado. A gente até conversava, até eu ter a ideia de escrever uma carta contando meus sentimentos para ele. Depois dele ler ele mudou de lugar e nunca mais conversou comigo. Pelo menos não mostrou a carta para seus amigos lerem e fazerem piadinhas. Mas talvez todos os seus amigos ou até a escola inteira leu e riam da minha cara por trás. Teve inúmeras outras situações, desde atrações que duraram um dia até as que me deixaram bem pior do que essas como a vez que o garoto que eu gostava virou o namorado da minha irmã.Decidi desde dessa época que nunca mais me apaixonaria daquela forma como fazia e desde desse momento percebi que nesses assuntos eu não poderia continuar sendo tão ingênua e demonstrar tão notavelmente o que sentia e por isso deveria agir com bastante cuidado a respeito do assunto que envolvia Gustavo.
Por fim a minha última hipótese, talvez a mais simples e menos paranóica de minha parte era que eles não haviam conversado e Gustavo só gostaria que eu o respondesse para provar que eu estava curiosa e que não iria mais o ignorar.
Depois de elaborar essa lista com as possibilidades e me acalmar tive a ideia de como faria a decoração do caderno. A capa ficou incrível, mais minha cara do que a anterior. O caderno de rascunho velho tinha poucas folhas usadas que arranquei e ele ficou como novo. Assim que acabei já me animei para escrever na primeira página. Deixei as minhas anotações passadas para as páginas seguintes. Aquela deveria conter um pouco da minha personalidade de agora afinal cidade nova e eu também era mais velha. O primeiro caderno nem tinha essa parte e nada mais justo em que esse começar com inovação. Escrevendo a introdução percebi o quanto tinha mudado gradativamente todos esses anos, mas precisamente nesse pouco tempo em que moro nessa cidade nova. Sentia uma estranha sensação de vazio, estava bem mais curiosa impulsiva e os comentários em que eu simplesmente ignorava antes de repente me incomodavam agora. Estava vivendo uma nova fase, senti uma necessidade de mudança. Terminei a primeira página com essa dúvida sobre quem eu era agora. Eu seria a mesma Sophia de antes um pouco transtornada pelos fatos da última semana e pela mudança brusca e repentina que minha vida havia sofrido ou estaria me transformando em uma nova Sophia com vontade de experimentar algo novo que estaria surgindo no meio de toda essa confusão?
Não queria parecer ser quem eu não era como Letícia fazia e nem perder as características de quem eu sou agora, mas eu sentia que algo em mim precisava mudar, só não sabia exatamente o que era e talvez nunca descobrisse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
;