quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capítulo 17

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar” disse o poeta William Shakespeare que particularmente gosto muito. Essa frase entra totalmente no meu contexto atual. Estava de madrugada e abri meu antigo caderno, ou o que sobrava dele para de certa forma me reencontrar porque por mais que estivesse me sentindo bem comigo mesma por ter dito tudo que eu pensava era como se eu também precisasse me lembrar de como eu era e encontrar essa frase serviu para isso acontecer, pois muitas vezes minhas dúvidas e a insegurança de dizer totalmente o que gostaria em alguns momentos, não agir com medo da conseqüência e por isso não tentar trouxe a minha reaproximação comigo e juntamente pude perceber como já estava na hora de encerrar aquela fase e encarar esse obstáculo. O primeiro passo eu já tinha dado, por mais que tivesse sentido de fato medo de arriscar fiz o certo ao dizer tudo que disse e como a citação diz se eu não arriscar e continuasse reagindo como antes nunca conseguiria vencer. O tempo parecia ter parado, estava muito angustiada porque tudo mudaria quando amanhecesse o que eu não podia é mais uma vez por medo de arriscar voltar atrás no que eu disse e voltar a ser a garota que não tem nenhuma expectativa para o futuro e que vive as sombras dos “talentos” dos irmãos. Amanheceu, me levantei e fui para a cozinha preparar o meu café da manhã. Era bem cedo, mas Luís, Letícia e meus pais já estavam sentados a mesa. Eu pensei que quando chegasse eles começariam a discutir comigo, mas não aconteceu nada do que eu havia previsto.Quando me sentei Letícia simplesmente se levantou,em seguida meu irmão, minha mãe e meu pai que disse que não podia conversar comigo pois o trabalho era importante e ele não poderia chegar atrasado mas que conversaria comigo a noite pois já havia pensando na minha punição e que se eu ousasse sair de casa como havia feito a minha tal punição poderia ser muito mais severa. Fiquei bastante chateada ao escutar isso, seria melhor ter discutido do que ser ignorada daquele jeito. Meu pai disse que o trabalho era importante, ou seja, o emprego importava mais do que falar a respeito de algo de sua filha. Mesmo eu me impondo era como se fosse invisível, não importava o que eu fizesse. Ontem à noite com minha saída desesperada da sala, Letícia deve ter contado com mais detalhes a sua versão de injustiçada e como sempre acreditaram nela. Quanto ao caderno para que dar importância para coisa tão inútil não é mesmo? Ficaria trancada o dia inteiro pensando em como seria a noite, com certeza seria mais um diálogo cansativo em que eu não teria opinião por mais que eu falasse.Estava pensando em desistir de me expressar mais,de arriscar e até mesmo daquela Sophia mais espontânea e que gostaria de ser reconhecida pelo que era mas nesse momento de fraqueza recebi uma mensagem.Era Gustavo me perguntando como estava me sentindo e o que tinha acontecido após ele ter sido “convidado” a ir embora da minha casa. Respondi que após ele ir embora havia dito tudo o que pensava, desmascarei Letícia sobre a história do caderno em vão e que em seguida subi para o quarto deixando todos falando sozinhos na sala agravando a situação e que estava me sentindo um lixo, pois naquela casa era invisível e tudo era mais importante que eu por ali. Tinha falado demais sim, principalmente sobre a parte do caderno já que eu nem sabia se realmente Gustavo sabia, mas já tinha enviado e não teria como reverter. Também era preciso arriscar e ver aonde tudo isso ia chegar. Minha vontade de voltar a ficar quieta passou como num encanto, lembrar de como minha irmã sempre se dá bem estando errada me dava forças para tentar mudar até porque Luís sempre foi assim e sei que como eu muitas pessoas se sentem assim, mas não tem coragem para fazer a diferença. Eu teria e iria até o fim mesmo que depois tudo ficasse pior, pelo menos eu tentaria viver em um ambiente melhor mesmo desconfiando que minha família um dia pudesse mesmo entender o significado desse termo. Os minutos demoraram uma eternidade para passar até que Júlia me ligou. Ela aproveitou à hora do almoço para saber como eu estava e para dizer que havia pensado em uma ótima maneira de eu contar toda a verdade para Marcelo.

- Boa tarde Sophia!Estava muito ansiosa para te ligar, mas tive que esperar o horário do almoço para poder falar com você. A propósito a galera adorou você e já querem saber quando podemos sair de novo e tudo mais. Mas quero saber primeiro se você conversou com Gustavo e se já contou tudo de uma vez para Marcelo porque pensei em uma ótima maneira de você desmascarar Letícia.

- Nem está sendo uma boa tarde. Ontem encontrei Gustavo quando estava chegando em casa aqui perto e na nossa tentativa frustrada de conversa acabamos nos beijando e meus pais e meus irmãos e inclusive Marcelo chegaram exatamente nessa hora.Foi um barraco que só,eu me descontrolei disse tudo que pensava,contei a história do caderno e saí deixando meu pai falando sozinho.Pensei que hoje ele iria discutir comigo logo cedo mas se referiu como o trabalho como mais importante.É sempre assim,sou deixada em segundo plano, meus irmãos vem primeiro que eu e não importa o que eu faça por mais que eu esteja certa, aqui estou errada.É tão ruim que to até desistindo de modificar quem eu sou...

Disse isso quase que chorando, sei que eu podia estar mesmo fazendo drama, mas precisava desabafar e Júlia tem sido uma ótima amiga para mim e é tão boa conselheira e motivada que achei que deveria dividir isso com ela, pois sofrer sozinha era o pior que eu poderia fazer. Ela conseguia me entender, mesmo me conhecendo a tão pouco tempo diferente dos meus familiares que conheço a minha vida inteira.

- Preciso realmente de um tempo para respirar!Como assim? Está falando sério que aconteceu tudo isso depois que fomos embora? Não sei qual deve ser minha reação, apenas perguntas e mais perguntas surgem na minha cabeça. Você e o Gustavo se beijando e todo mundo viu? Teve barraco no meio da rua por causa disso e você contou toda a verdade ainda por cima com Marcelo vendo? Não poderia ter sido melhor!Queria ter visto a cara de tacho da Letícia, mas espera um pouco, como assim mudar quem você é? Porque faria isso, você não precisa mudar nada em quem é quem colocou isso na sua cabeça garota?

Júlia disse isso falando muito e desesperadamente como sempre. Me fez tantas perguntas que não sabia por qual deveria começar a responder.

- Calma! É uma longa história, o Marcelo infelizmente não vi. Eu só disse tudo que pensava e a verdade sobre o caderno depois que meus pais expulsaram Marcelo e Gustavo daqui, pois meu pai disse que conversaria com ele depois, fiquei um pouco chateada porque seria melhor ele ter descoberto tudo ali mesmo, mas depois pensei que em meio aquele clima tenso não seria a melhor forma para ele descobrir tudo. Agora não sei mesmo como falarei com ele porque estou proibida de sair de casa e não convém sair às escondidas. E sim Gustavo e eu nos beijamos de novo e ele pediu meu pai em namoro, mas a conversa é muito grande, tem que ser pessoalmente.

- Estou surpresa até agora. Quero que você me conte essa história com todos os detalhes o quanto antes. Mas e essa parte de você querer mudar quem você é?

- Ah sabe, ontem a noite estava comparando o meu caderno novo e o antigo e vi o quanto era insegura,deixava de falar as coisas que gostaria, fingia não me importar, aceitava essa indiferença em que meus pais me tratam, meus irmãos esnobes como sempre e na discussão de ontem foi como se eu me libertasse. Há muito tempo queria modificar algumas coisas em mim, não deixar de ser quem eu sou, mas melhorar algumas coisas que eu considero serem defeitos que me impedem de atingir o que realmente quero.

- E o que exatamente você quer?

Essa pergunta da Júlia me fez refletir mais ainda, eu queria era tentar algo realmente novo, viver novas experiências, era como querer descobrir o outro lado de mim. Mas para minha amiga disse apenas que queria ser mais respeitada por ali e ia até explicar um pouco melhor quando escutei alguém chegando a minha casa e por isso tive que desligar o telefone. Provavelmente seria meu pai que arranjara um jeito de sair mais cedo do trabalho importante para discutir comigo. Podia sentir que seria naquela hora que as coisas iriam ficar complicadas...






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