segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012 1 comentários

Capítulo 29

O primeiro dia de aula foi mesmo incrível, nunca poderia imaginar que seria tão agradável. Tirando a parte da aula de matemática no último horário correu tudo muito bem até o final, tirando a parte em que voltei para casa com Marcelo. Gustavo precisou encontrar com os pais no final da aula e Letícia para minha felicidade não voltaria junto comigo para casa, pois ela estava iniciando uma nova campanha com a agência. Sem ela para me atormentar ao menos na parte da tarde já era um alívio. ´
Fiquei um tempinho depois do término do horário conversando com meus amigos e creio que Marcelo fez isso também e como ninguém voltaria pelo mesmo caminho que a gente pelo menos nesse primeiro dia só restaram nós dois por uma ironia do destino. No início pensei em apertar o passo e ir sozinha mesmo, afinal nós dois não agüentamos ficar perto um do outro e eu não consigo engolir a história de que ele me acha uma mentirosa, ou melhor, sabe que no fundo minha irmã mente, mas prefere acreditar na realidade que melhor lhe convém, mas pensei melhor e resolvi ir ao lado dele para ver qual seria sua reação mesmo que ficássemos o caminho todo no silêncio profundo. Com certeza ele pensou em fazer a mesma coisa que eu, mas também deve ter ficado curioso em saber qual seria minha reação e como nos comportaríamos durante nosso regresso para casa. Nos encaramos rapidamente e nos próximos 5 minutos ficamos andando lado a lado calados. Não sei o que aconteceu comigo, mas quando percebi já havia conversado com o garoto e perguntado sobre o que ele tinha achado do primeiro dia de aula. Além de eu cometer a burrada de conversar com Marcelo eu precisava perguntar algo tão fútil, ridículo e banal como eu fiz. Cheguei a pensar que ele iria fingir não escutar, mas para minha surpresa ao invés de responder minha pergunta sem noção me fez uma outra pergunta.
- O que você fez para minha avó gostar tanto de você?
- Como assim? – Respondi meio surpresa
- O jeito que ela fala de você, como ela tenta me forçar a gostar de você, te conhecer melhor, o modo como ela diz que você é cheia de vida, a forma como ela te elogia, ás vezes penso que ela prefere você a mim. Então mesmo não tendo muita afinidade, preciso descobrir o que fez e já que achei uma oportunidade de te perguntar você poderia me responder – Marcelo disse com o mesmo tom frio que dirige a mim sempre.
Achei aquela pergunta um abuso. Na verdade ele estava querendo insinuar que eu fiz algo para que Clara gostasse de mim e estava meio que indignado porque pensava que ela preferia estar comigo do que com ele. Não tinha fundamento o que ele disse, até porque os sentimentos de alguém não funcionam como uma competição, algo que você tenha que medir, simplesmente existe. O carinho que ela sente por mim é diferente, ele é neto dele, mas no fim se trata do mesmo sentimento de querer o outro bem e isso definitivamente Marcelo não entende. Mas como estou acostumada com a dissimulação e o modo como ele me acusa resolvi mudar o jeito que lhe respondia. Se até hoje tentei expor a verdade, discutir, tentar mostrar a vida de outro jeito a partir de agora com toda essa transformação que sofri nos últimos tempos resolvi dar a ele a resposta que ele gostaria de ouvir, até um pouco irônica só para ver a sua reação.
- É Marcelo você tem razão. Eu a sabotei, menti, disse que gostava de coisas que eu odeio só para conquistar a amizade dela, afinal o mundo de hoje é superficial e falso. Disse o que ela gostaria de ouvir e agora olha só ela prefere conversar comigo. Acho que penso como você, a amizade e o sentimento das pessoas devem ser comprados e não conquistados, nós devemos acreditar na verdade que queremos não importa o quanto irreal seja. Não funciona tão bem com você?
- Pelo contrário funciona bem apenas com você. Olha o modo como minha avó gosta de você inexplicavelmente.
- Tem razão, é inexplicável mesmo. E acho mais inexplicável ainda você ter tanta convicção de como eu sou se de fato você nem me conhece realmente. Você apenas me vê, nos encaramos e às vezes trocamos poucas palavras que sempre nos levam a alguma discussão como agora. No mais você não sabe nada sobre mim. Posso dizer o que você quer ouvir, que compro a amizade da sua avó, pois essa é a verdade que quer escutar, mas não farei isso, mudei de ideia. Só quero te dizer que não tenho culpa dos seus problemas, aliás, ninguém tem e todo mundo tem algum e enfrenta como pode. Sei que algumas coisas são difíceis de lidar, mas as pessoas a sua volta não têm culpa de nada que já aconteceu com você. Então pare de julgar, para de me julgar sem me conhecer realmente e procura descobrir a verdade real dentro de você porque o que eu vejo aqui é um garoto assustado, que deixou a decepção e os traumas tomarem conta aos poucos do que é realmente.
- Do que você está falando, não sabe nada de mim para falar algo assim...
O interrompi dizendo
- Da mesma maneira que você não sabe nada de mim e desde o primeiro momento já ditou a impressão de mim da maneira que quis. Engraçado não é mesmo?
Nem escutei direito a resposta que ele me deu, acabei me empolgando e falando demais e quase deixo escapar o segredo que Dona Clara havia me pedido para guardar, mas de fato ele mereceu ouvir tudo aquilo para refletir e eu me senti aliviada de dizer.
Cheguei em casa e aproveitei meus momentos sozinha,dormi um pouco e comecei a fazer a capa dos meus cadernos que assim como o “caderno da confusão” também seriam personalizados. Mais tarde passei na livraria de Júlia para comprar alguns materiais e colocamos os assuntos em dia. É incrível como sempre arrumamos novos assuntos mesmo tendo nos visto há poucas horas atrás. Júlia continua com a ideia de que devo participar do concurso da livraria, mas ainda não estou totalmente convencida. Prefiro aguardar a escolha do tema e aí assim decidir se tomo coragem e me inscrevo ou não. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012 0 comentários

Capítulo 28

Mal da para acreditar em quanta coisa aconteceu nessas férias e desde o dia em que eu me encontrei com Júlia para mudar o visual e com Gustavo em seguida. Agora estamos namorando sério e por incrível que pareça mesmo com todas as provocações e descrença que sofro por Marcelo e Letícia está feliz. Minha irmã e ele continuam namorando e ele continua não acreditando que sou eu a dona do caderno. Nos encaramos sempre que nos vimos porém não falamos nada sobre o assunto, é algo que fingimos não existir,pelo menos é o que eu faço por enquanto.Aos poucos a amizade de Gustavo e Marcelo é retomada,claro que não com a mesma intensidade mas eles já conversam bastante novamente e acredito que em breve tudo voltará a ser como antes. Meu pai, minha mãe e meu irmão continuam da mesma maneira, agora mais ocupados do que nunca. Meu pai foi promovido novamente no escritório e agora trabalha tanto que acho que seria até apropriado criar uma hora extra no dia normal de 24 horas só para que ele tenha tempo de quem sabe resolver suas questões do trabalho. A faculdade de Luís está para começar e ele arrumou um estágio que tem tudo haver com essa área que pretende seguir graças a meu pai. Minha mãe está ficando cada vez mais conhecida na cidade e cada vez mais surge mais eventos para ela cobrir. Letícia está conseguindo novos clientes na sua agência e assim como cresce a procura por ela cresce junto à arrogância e a sensação de ser melhor que todo mundo que ela carrega. Quanto a meu namoro com Gustavo meu pai acabou concordando depois de tanta insistência do garoto e apesar de toda a cobrança que aumentou na minha vida após isso principalmente em relação ao novo ano escolar que se inicia é muito bom finalmente ter encontrado alguém como Gustavo. Quanto mais o conheço, mas percebo que temos muita coisa em comum, ao lado dele eu me sinto mais feliz, mais leve também. Outro dia até escrevi um texto referente a ele no caderno novo e ele acabou vendo e adorou, até se arriscou a escrever algo para mim que não deu muito certo, mas eu achei muito fofo. Finalmente os problemas na minha vida tiraram umas férias, pelo menos por enquanto. É claro que não consigo esquecer tudo que ocorreu antes e nem a história triste sobre Marcelo que Clara me contou e eu não sei bem como ajudar, mas de certa forma estou em uma fase que posso “respirar” de novo. O final das férias foi muito bom, toda galera que conheci no shopping com Júlia aprovou meu novo visual, saímos novamente e assistimos um filme de comédia e dessa vez levei Gustavo como meu namorado. Estou vivendo a cada dia que passa uma novidade, cada dia descubro algo em mim diferente, que talvez nunca havia notado,a cada instante me sinto mais viva. Estou totalmente adaptada nessa nova cidade e super feliz de ter vindo morar aqui. No início achei ruim, ainda tem alguns pontos negativos, mas vejo como essa mudança me fez bem, aliás, se não fosse por ela não teria conhecido Gustavo, Clara, Júlia e nem essas pessoas maravilhosas que conheci. Eu não teria conhecido Marcelo e assim não teria passado por tantas dificuldades, mas mesmo assim acho que foi bom ter o conhecido, pois graças a ele e toda a confusão gerada por meu caderno e ele eu me reinventei,me descobri,amadureci.
Amanhã as aulas voltam e estou ansiosa para conhecer minha nova escola, saber como é a sensação de estar no ensino médio. Quando era menor ficava imaginando como seria quando eu estivesse nessa época, como estaria a minha vida e jamais eu poderia pensar que minha vida estaria desse jeito. Estou torcendo para ser da classe de Júlia, da Mari, ou de alguns amigos que eu fiz nas férias, mas também estou preparando a minha mente caso eu não fique na mesma sala que eles. Pelo menos os verei no intervalo e terei a chance de conhecer pessoas novas na minha sala também. Caso isso aconteça torço para que o pessoal seja tão bacana como os amigos de Júlia, agora meus amigos são.
Fiquei tão ansiosa na madrugada que acabei tendo altas ideias de textos e poesias e claro acabei registrando esses esboços no novo caderno. Quando me dei por mim, já era hora de me arrumar para ir para a escola. Não durmi direito, mas também não estava com sono, estava era muito ansiosa para saber como seria o dia. A minha única infelicidade era que Letícia também estudaria no mesmo colégio que eu, mas como ela está se formando, só teria esse ano para agüentar estar no mesmo espaço que ela.
Gustavo tocou a campainha, combinamos de irmos juntos para a escola. O acompanhado estava Marcelo que também ficara de encontrar Letícia. Fomos todos juntos para a escola lado a lado, mas não trocamos uma palavra entre nós. Gustavo até tentou inventar um assunto para que nós quatro interagíssemos, mas foi em vão. Como o colégio era perto chegamos em uns 20 minutos e eu adorei o local. Era muito melhor do que o meu colégio anterior, maior, mais bonito e os professores pareciam ser muito mais simpáticos, sei que era primeira impressão e que eu não acredito muito nela, mas sabia que esse ano seria completamente diferente de todos os outros. Algumas garotas “patricinhas” me encararam logo de cara e cochicharam, mas eu nem liguei, estava com meu namorado do lado e logo encontrei Júlia. Não fiquei surpreendida ao ver que as garotas que haviam me confrontado eram amigas de Marcelo e que logo fizeram amizade com Letícia.
- Bom dia Sophia. Estava tão ansiosa para o dia de hoje, estou doida para saber se seremos da mesma sala. Vai ser muito legal, estou muito nervosa, não faço à mínima ideia de como seja isso aqui, realmente é uma nova fase viu.
- Nem me fale, eu mal dormi a noite de tanta ansiedade e empolgação para o dia de hoje. Até escrevi alguns textos para passar o tempo durante a madrugada e quando percebi já havia amanhecido, vê se pode.
- Ah é mesmo, com tanta coisa até esqueci de te contar. A livraria está promovendo um super concurso de literatura e é claro que você tem que participar. O prêmio principal é o texto vencedor concorrer na Grande mostra anual de literatura da cidade e caso seja eleito ao vencedor ele será publicado no jornal mais lido da cidade e a pessoa ganhará um estágio em uma editora para aprender técnicas diversificadas para aprimorar os textos, e claro um bom prêmio em dinheiro.
- É realmente muito legal, mas pensando bem vai envolver muitas pessoas, muita coisa e eu não sei se estou preparada ainda, meu textos nem são tão bons assim.
- Pare de se menosprezar Sophia, essa fase já acabou. Não quero nem saber, seus textos são ótimos e você vai participar sim. Me parece que o tema é livre, mas não sei bem direito,amanhã saberei detalhes e te direi e olhe bem, não aceito um não como resposta.Você vai arrasar!
- Está certo amanhã a gente conversa sobre isso. Agora vamos olhar em que sala estamos.
Fomos em direção aos corredores correspondentes ás salas do ensino médio ver qual seria nosso destino. Reencontrei Gustavo a caminho dali felizmente sem Marcelo e Letícia e também nos encontramos com todos nossos amigos que estavam super animados.
- Fala Júlia, Sophia e Gustavo. Já sabem de que sala vão ser? Eu e Mari seremos mais uma vez da mesma sala. – Disse Bruno.
- É verdade gente. Não consigo me livrar desse garoto mesmo- Mari brincou para irritar Eduardo.
Espero sinceramente que esse ano os dois comecem a namorar, pois está na cara deles como são apaixonados um pelo outro.
- Sophia você é o comentário da escola. Todo mundo quer te conhecer e acharam seu estilo super legal. – Carol disse
- E eu Karina e André aproveitamos para falar com todo mundo que realmente você é super legal e estilosa e que vão adorar te conhecer. E a propósito suponho que você já escreveu algo novo e preciso muito ler – disse Lucas
- Desse jeito vocês vão me deixar sem graça, logo no primeiro dia de aula. E você adivinhou Lucas, eu escrevi coisas novas sim, mas não está terminado, quando acabar eu prometo que mostrarei para você.
- Você sempre fala isso Sophia, aposto que está ótimo e você vai mostrar não só para o Lucas para todo mundo aqui. E gente já adiantando a Sophia vai participar do concurso da livraria, vai ganhar e terá o texto publicado no melhor jornal da cidade.
- Ai Júlia eu ainda não concordei em nada disse apenas que iria pensar. Não coloque palavras na minha boca.
- É sério meu amor, você deve participar sim. Você é incrível e o mundo merece ler um pouco do que você escreve para se sentir melhor.
- Ai gente depois dessa sessão dramática vou voltar para a minha sala galera. Vejo vocês no intervalo- Disse o engraçadinho do Eduardo.
- E vamos descobrir a sala que estudaremos agora não é mesmo Júlia?
- Isso mesmo Sophia. Até o intervalo gente.
Me despedi de Gustavo e fui com Júlia verificar as salas e para nossa felicidade descobrimos que eu e ela seríamos da mesma sala e Mari da sala ao lado.Seria diversão na certa. Entramos na sala e aguardamos a primeira aula começar. Para minha alegria e decepção de todos os outros entediados e revoltados com o início das aulas o primeiro horário foi de literatura e a professora parecia ser muito animada. Depois de tantas dificuldades, estava tendo um tempo de tranqüilidade para me reerguer e adquirir forças. Estava muito feliz e realmente era o início de uma nova fase em minha vida.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012 0 comentários

Capítulo 27

É engraçado como as pessoas parecem mudar quando se trata de algo belo. Vemos casos desastrosos de morta na televisão em que as pessoas dizem: “Como puderam matar tal pessoa? Ela é tão bonita” O fato é que o mundo de hoje é superficial e isso vai tomando mais conta de nós a cada instante. Tentamos nos adequar as tendências para que dessa forma possamos nos sentir melhor. E quanto a minha transformação eu com certeza serei interpretada dessa forma ainda mais por Gustavo e Letícia. Letícia com todo seu veneno dirá que mudei para tentar me encaixar aos padrões e para tentar conquistar Marcelo. Eu pensei em todos os detalhes anteriormente e sabia que isso poderia sim acontecer, mas o que importa é que eu sei que fiz tudo isso para me sentir melhor, para me descobrir e posso sentir que estou bem e o resto e as pessoas não importam. Porque é assim que funciona, as pessoas sempre irão falar bem ou mal, não há uma maneira de se privar disso, não há como nunca ter o nome da boca de alguém, você não pode é se deixar privar de viver por causa das pessoas. Confesso que estava a dias atrás caminhando para essa fase mas ainda bem que ao invés de me entregar ao sofrimento e descontentamento resolvi me reinventar e bem interpretado ou não é assim que será.
Gustavo e eu estávamos ali no shopping sem ao certo saber o que dizer mas ao mesmo tempo sabíamos que havia muito a ser dito e esclarecido. Eu respondi ao seu elogio meio sem graça e estava um pouco decepcionada pelo seu atraso e por quase ter desistido de me encontrar. Mas lamentar por isso não era o melhor a ser feito agora, nós precisávamos mesmo era nos entender.
- Obrigada Gustavo, eu precisava mesmo disso. Ainda bem que você veio, não acho que fugir ou desistir seja a melhor opção. Não era você que não era implicante e completamente insistente? O que está acontecendo? Não acho que o que eu disse seja assim tão grave a ponto de você mudar de comportamento tão repentinamente.
- É eu sei Sophia. Por isso estava sem graça de te atender e vir falar com você, mas vi que fugir realmente não seria a melhor opção. Sou implicante e insistente não é mesmo? Me desculpa por aquele dia, acho que te interpretei mal mas é porque eu não queria ouvir coisas desacreditadas sobre meu respeito ainda mais de você. Eu meio que programo como será o dia na minha cabeça, mas esqueço que não tenho o controle das pessoas.
- É verdade, ninguém pode controlar ninguém. Nós mesmos não nos controlamos de fato, somos movidos pelas nossas angústias, alegrias, experiências de vida, expectativas e inseguranças e quando vemos já perdemos o controle total da vida. Me desculpa, mas acho que realmente aquele dia me expressei mal. Não quis dizer que não acreditava e que você usava o mesmo discurso com todas, mas sei lá acho que a confiança é algo que se conquista com o tempo e a dúvida as vezes toma conta de nós, principalmente de mim que questiono demais e falo o que penso na maioria das vezes.
- Mas isso não justifica me acusar assim. Mas não quero discutir sobre isso e preciso dizer que a maneira como você fala, que enxerga a vida me encanta. Da mesma forma vejo em seus olhos alguma coisa que não sei bem o que é e isso me instiga. Parece que você se priva do mundo em muita coisa, esconde muita coisa de que é e talvez seja até por isso que transcreva tudo no caderno. Como um mundo particular em que você pode ser você mesma. E falando em ser você mesma, vejo que você está de um visual diferente, mas que não faz muito seu estilo que conhecia. Porque essa mudança? Está querendo ser algo que não é?
- Não é bem assim Gustavo. Olhe ao seu redor as pessoas mudam o tempo todo. Uma atriz está com um corte de cabelo em um dia e no outro já mudou completamente para um novo papel. Eu senti que precisava mudar algo, me redescobrir me reinventar, mas claro sem perder o que eu sou. É que a vida já estava pesada demais, bastante complicada e levei isso como uma forma de renovar os meus ânimos.
- Devo admitir que esse visual lhe caiu muito bem. Não consigo parar de olhar para você. Acho que começamos errado desde o início. No dia da festa aquela minha insistência sem sentido para conversar com você, o dia que fui de surpresa em sua casa, o nosso primeiro beijo não esperado pelo menos não para você, o encontro em que tivemos na sua rua quando seu pai nos encontrou e eu o enfrentei, o dia da sorveteria em que fui embora sem dar explicação. Acho que é minha falha mesmo, queria que as coisas entre nós dois acontecessem rápido demais e não percebi que você tinha seu próprio tempo. Eu mal deixei você respirar e quando você tem algo a dizer eu não escuto e vou embora. Sophia eu quero muito ficar com você, quero estar contigo e enfrentar toda essa situação que você passa contigo. Sei que sua família é meio problemática, conviver com seus irmãos não é fácil e ter pais tão ausentes que não sabem nem ao menos como é sua letra não é agradável e acho que se eu fosse você no seu lugar não teria tanta garra e um jeito tão envolvente como o seu. Você ainda não me disse o que queria dizer e nem porque se priva tanto do mundo real. Não adianta negar estar dentro dos seus olhos e eu posso enxergar.
- Está bem, acho melhor te contar mesmo. Você não é a pessoa em que digamos gostei de cara. Para mim de início você era como Letícia e Marcelo. Pessoas que simplesmente nasceram para tornar da minha vida um pesadelo. Não sei o que foi acontecendo com o tempo, não sei se foi no dia do nosso primeiro beijo ou no dia que enfrentou o meu pai e me defendeu, ou qualquer outro dia, mas eu passei a sentir uma necessidade de te ter comigo, uma vontade de desabafar assim com você. Da mesma forma você bagunça meus pensamentos, é uma desordem emocional. Na mesma hora que penso mal de você já estou pensando bem e assim meus pensamentos vão se misturando. Alías, não é só com você, é com tudo ao meu redor e agora mais do que nunca. Não sei se é porque moro aqui há pouco tempo, mas comecei a pensar que minha vida é um verdadeiro nada. Luís e Letícia sempre tiveram e terão histórias para contar. Mas e eu? Eu não passo da ovelha negra da família, sem qualquer talento, desajustada do mundo que tem apenas um simples caderno de anotações que de repente trouxe tanta confusão e descrença nas palavras que eu digo. As palavras que eu escrevo se debatem com as que eu falo e no meio dessa confusão é como se eu mesma perdesse minhas palavras.
- Eu sei como você se sente Sophia. Mas não deixe isso te atingir assim, se privar de tudo e viver nessa eterna atmosfera de confusão que eu vejo que você vive. Você é mais do que isso tudo e eu já disse para você parar de se menosprezar. O seu caderno só traz tantos problemas para você porque é incrível, o modo como você usa as palavras comove qualquer um, até a mente mais perturbada como a Marcelo. Se eles não acreditam em você ainda é porque não adquiriram uma certa maturidade ou estão perdido dentro deles mesmos. Mas indiferente de tudo Sophia eu quero que saiba que eu me importo com você e que estarei contigo para o que der e vier, te escutarei e tentarei de entender até quando isso não é possível pois admita as vezes nem você consegue ao mesmo se entender. Mas já que estamos aqui e agora juntos conversando, dizendo tantas coisas, é o momento para que reiniciamos nossa história e nos esquecemos do resto das pessoas pois elas não tem nada haver com a nossa vida. Você mesma disse que fez essa transformação para se reinventar, para buscar algo novo então vamos começar algo novo agora. Quer namorar comigo?
É estranho, mas as palavras de Gustavo me acalmam, me deixam sem reação. Elas rebatem com as minhas e nessas horas eu me esqueço dos dias, cobranças, esqueço tudo que penso. Quanto mais o tempo passa e quanto mais conheço Gustavo vejo que minha primeira impressão dele foi errada e que devemos sim ficar juntos. Quanto ao resto das pessoas, meus pais, Letícia, Luís e quem mais que seja, eles não tem nada haver com isso e se precisar mesmo pensar neles que seja depois, não agora, pois naquele momento eu finalmente tinha entendido o que eu tinha que fazer. Respondi a Gustavo:
- Aceito namorar com você e no futuro a gente pensa depois!
Eu e Gustavo nos beijamos e aquele momento, ou melhor, aquele dia foi inesquecível. Uma nova fase havia começado. 




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012 1 comentários

Capítulo 26

Não podia descrever ao certo o que eu estava sentindo naquele momento. Era uma mistura de angústia, ansiedade, felicidade, insegurança. Aquela transformação era o que eu mais queria naquele momento, com certeza me faria bem. Eu já havia pensado muito a respeito disso, escutado os conselhos de Júlia e prometi para mim mesma que não perderia minha verdadeira eu no meio disso tudo mas confesso que estava com um pouco de medo disso tudo afinal isso tudo era muito novo para mim.Eu sei que é bobagem,as pessoas mudam o tempo todo,atores e atrizes então nem se fale.O problema é que pode até parecer bobo mas para mim é mais complicado por causa de todos os fatos que haviam acontecendo e pelas minhas próprias convicções anteriores.Acho que me sentia que nem a Júlia se sentiu tempos atrás.Fico muito contente em saber que ela foi ajudada e conseguiu se salvar dela mesma e hoje está aí cheia de alegria e disposta a ajudar a todos e a fazer o bem.Não sei o que eu faria se não tivesse uma amiga tão leal como Júlia do meu lado. Estávamos decidindo ali em como seria de fato essa transformação mas eu não conseguia parar de pensar em Gustavo e Marcelo.Os dois são tão diferentes mas também tão iguais ao mesmo tempo e estão envolvidos nesse círculo maluco que entrei graças ao caderno e Letícia da mesma intensidade.Mesmo magoada com Marcelo por ele preferir enxergar a verdade “mais bonita” aos seus olhos eu estava preocupada com ele,afinal a situação que ele vivera não foi fácil.Minha família não é unida,meus pais não dão a mínima para mim mas pensando bem a situação de Marcelo foi pior pois ele sabia que podia contar com a família que viu desmoronar como em um piscar de olhos e teve que perder o tio que mais o apoiava.Eu sempre digo que isso não é motivo para tanta obscuridade da parte dele mas mesmo assim consigo compreender.Cada um expressa e lida com suas mágoas de uma forma muitas vezes da forma mais complicada que machuca muito mais. Mesmo com tudo isso gostaria de ajudá-lo de certa forma, pois caso ele ficasse mais “sociável” até Dona Clara ficaria mais feliz ao ver o neto recuperado. Fiquei tão pensativa nesse assunto que nem prestei atenção ao que a Júlia estava conversando com a cabeleleira do salão de beleza que havíamos escolhido. Acho que só teria minha mente limpa novamente depois que descobrisse um meio de ajudar Marcelo ao menos de forma anônima e conversasse direito com Gustavo. Estava muito ansiosa para saber se ele me encontraria mais tarde mesmo depois de tudo. Ele não me respondeu, aliás, não retornou nem uma de minhas ligações desesperadas que havia feito enquanto pensava nisso. Quem diria que aquele garoto intrometido que eu vivia ignorando me faria chegar no ponto de ligar desesperadamente e bagunçar meus pensamentos assim? Mas não era a hora de pensar nisso, meu cérebro poderia me obedecer ao menos nesse momento tão importante para mim. Júlia me deu um toque e me chamou para a realidade e me mostrou alguns estilos que ela pensava que combinaria comigo. A mudança escolhida era bem sutil até para que eu não me assustasse e acostumasse ao novo. A proposta era um cabelo um pouco mais curto com um corte mais moderno, cor de mel com luzes e ondulado nas pontas. A maquiagem era marcante, mas ao mesmo tempo não chamava tanta atenção. Quando tudo começou senti uma vontade de desistir, mas uma coisa que sei da vida é que devemos sempre olhar para frente e nunca para trás e a pior coisa que se pode fazer na vida é desistir sem tentar. Quando terminei o cabelo junto à maquiagem mal podia acreditar. Era como se não fosse eu mesma. Ainda dava para me reconhecer, mas senti uma leveza em mim, era como se minha vida fosse recomeçar e agora eu pudesse fazer novas escolhas talvez mais certas ou caso fossem erradas eu poderia aprender com meus erros até resolver mudar de novo como todas as pessoas fazem. Até Júlia que antes estava contra a minha mudança aprovou o resultado. Eu acho que ela estava com medo de eu escolher um estilo mais agressivo como ela já havia feito uma vez, mas depois Júlia mesmo percebeu que minha mudança nada mais foi do que um tapa no meu visual que por sinal eu precisava faz tempo. Depois do salão de beleza compramos umas roupas novas, as que eu sempre tive vontade de usar, mas nunca tive coragem de comprar, pois pensava que para mim não funcionaria apenas para Letícia. Muitas vezes quando via uma roupa na vitrine nem tinha coragem de experimentá-la, pois para mim só em Letícia ficaria bacana, pois da última vez que tive a tal coragem experimentei a mesma roupa que minha irmã. Em mim não ficou nada bom ao contrário dela que recebeu elogios até dos atendentes da loja. Mas aquela parte de mim havia ficado para trás, pois eu aceitei a me aceitar e aquela era a Sophia que eu era junto com a que eu sempre quis ser. As horas passaram muito rápido e cinco horas chegaram.Era a hora em que eu descobriria se Gustavo me encontraria e estaria disposto a me ouvir.Me despedi de Júlia e marquei de encontrá-la no dia seguinte.Daria a desculpa que teria que comprar alguns matérias escolares que havia esquecido para dar uma passada na livraria e contar como foi o encontro com Gustavo ou a falta dele. Passaram às cinco horas, cinco e dez, cinco e quinze e nada de Gustavo. Pensei em ligar mais uma vez, mas aí já seria desespero demais. Eu estava tão feliz com minha meta cumprida que não queria me chatear agora.Talvez seria mesmo melhor que não nos encontrássemos.Eu não estava gostando do garoto que eu sempre ignorava,eu só pensava isso antes porque estava em conflito comigo mesma e em um momento de fraqueza. Como poderia gostar de um garoto irritante, abusado que me beija a força e não era ao menos capaz de me entender e que me abandona quando digo algo que não agrada? Isso só prova que o que ele diz sobre os sentimentos por mim não é a verdade. Mas a quem eu estava querendo enganar, já estava indo embora com essa ideia na cabeça quando vejo Gustavo vindo em minha direção. Ele parecia estar paralisado ao me ver. Ele chegou perto de mim e aquela ideia de que eu não poderia gostar dele desapareceu. Ele era tudo isso, mas acima de tudo tinha muitas qualidades que me agradavam e uma delas era me defender e enfrentar meu pai como fez no dia da confusão. Quanto mais tentava entender meus sentimentos por ele mais eu me confundia, mas era inevitável sentir a alegria quando eu o encontrava. Gustavo chegou bem perto de mim e ficamos nos olhando paralisados. Ao me ver ele pareceu ter esquecido de tudo ou pelo menos ele decidiu parar com o drama ridículo do dia em que me na sorveteria .Quando finalmente conseguiu dizer algo apenas disse:
- Sophia, você está linda, mais do que já era. Eu quase desisti de vir e até pensei que você já havia ido embora. Estava com vergonha de você por causa do meu comportamento. Me desculpa por minha infantilidade mas acho que agora podemos conversar e recomeçar de uma forma bem melhor do que a anterior.
Eu não sabia o que dizer, mas estava contente porque agora sim conversaríamos o que tinha que ser dito e talvez ter esperado tanto até seria melhor pois depois dessa mudança que eu sofri podia dizer que estava sentindo bem comigo mesma de verdade e agora poderia expressar e dizer tudo o que precisava a Gustavo. Sobre a minha tranformação e se ela foi mesmo uma coisa positiva em minha vida só o tempo poderia me responder, mas estava feliz em ter tomado essa decisão. 

domingo, 5 de fevereiro de 2012 1 comentários

Capítulo 25

O dia foi bem complicado. Nunca imaginaria nada do que teria acontecido com Marcelo no passado. Sei bem como é se sentir sozinha no mundo, sem que ninguém possa ajudar. Deve ter sido muito difícil para ele conviver com a separação dos pais, perder o tio que o apoiava, tudo repentinamente e ainda por cima conviver com uma culpa que a cabeça confusa dele criou. Acho aceitável essa mudança de comportamento dele, de querer ficar sozinho e tudo o mais porque ás vezes todo mundo precisa de um pouco disso, se reinventar, se redescobrir, mas isso não justificava toda aquela revolta ainda mais comigo. Ele mal me conhecia e já me tratava mal assim como fazia com as outras pessoas e até com o melhor amigo. Tudo bem ele se sentir perturbado e revoltado por não entender porque aquela confusão acontecia justamente com ele, mas descontar em mim e ao redor já era sério demais. Sempre me preocupei com as pessoas mais do que deveria e não importa o que elas fizeram comigo algum dia eu sempre me acho no dever de ajudar porque sei bem como é se sentir confusa e um pouco infeliz em alguns momentos que parece que nada vai dar certo na vida. Gostaria de ajudar um pouco Marcelo a superar isso, talvez como Clara havia me falado, é por isso que ela possui tanta confiança em que eu e o neto dela iríamos um dia combinar,afinal ela me disse que me pareço com ela. Combinar com Marcelo não era bem a palavra certa a usar, até porque se eu não tinha a menor vontade de que isso acontecesse, o garoto conseguiu dificultar mais essa aproximação no almoço de domingo me acusando de mentirosa e se forçando a acreditar nas mentiras de Letícia mesmo sabendo que era irracional. Talvez seja até um erro de minha parte, mas me sentia na necessidade de ajudar Marcelo porque devo muito a sua avó que sempre me apoiou e me ajudou desde que cheguei nessa cidade. Não iria ser invasiva e nem sabia ao certo como fazer isso só sabia que não era justo por pior que ele fosse ter que conviver com aquela história sozinho, se fechando para o mundo.
Minha preocupação não era só com Marcelo. Também tinha o Gustavo. Ele saiu tão perturbado da sorveteria como se eu tivesse cometido um erro grave quando na verdade só estava tentando dizer o que eu pensava, desabafar com ele, pois me sentia preparada para contar algumas coisas a ele quando fui mal interpretada. O pior era que ele não atendia minhas ligações e sabe se lá o que ele teria feito depois daquela hora. A noite havia chegado e meus pais, Luís e Letícia já haviam voltado para casa e o clima como sempre estava insuportável. Estava feliz que as aulas voltariam na próxima semana. Eu poderia sentir ia ser bom para mim, já conhecia Júlia, Mari, Eduardo, Lucas e toda a galera com que me indentifiquei muito e que de certa forma me fazia esquecer todos aqueles problemas e me divertir sempre. Com as aulas voltando não ficaria tanto tempo dentro de casa aturando principalmente minha irmã e talvez nem lembrasse tanto de tudo. O único problema é que Marcelo e Letícia também estudariam lá e mesmo que em salas diferente querendo ou não os veria no intervalo. Não estava ligando para isso, tinha meus amigos e como Júlia me diz devo ignorar os comentários e piadinhas dos dois como eu sempre fiz.
No dia seguinte como havia combinado com Júlia era um dia em que ocorreria minha pequena transformação. E mais do que nunca eu sabia que era preciso. Durante toda aquela noite pensei em Gustavo e no que ele me disse, em quando ele foi embora chateado pela forma que me expressei. Não deveria pensar tanto assim nele, mas era inevitável. Eu não sabia o que estava acontecendo, só sabia que era algo novo. Precisava muito resolver as coisas com ele, conversar direito e não daquela forma como aconteceu. Amanheceu e a primeira coisa que eu fiz foi ligar para Gustavo que não me atendeu, resolvi então mandar uma mensagem dizendo que sentia muito pela forma como me expressei e por a gente nunca conseguir conversar direito. Disse que se ele ainda quisesse falar comigo era só me retornar a mensagem ou me encontrar às 5 da tarde no shopping. Ás 5 horas tudo estaria igual, mas ao mesmo tempo diferente. Nessa hora eu já estaria “diferente” e se Gustavo resolvesse me encontrar ele seria o primeiro a ver meu novo visual e notar a mudança que aconteceria não só fisicamente, mas também em meu interior. Estava feliz em que o momento havia chegado, tinha pensando bem no alerta que Júlia havia feito e estava mesmo decidida que era isso mesmo que eu queria e que sabia das conseqüências caso exagerasse demais. Me encontrei com ela no horário combinado,aproveitei e contei o que houvera acontecido no dia anterior.
- Olá Sophia. Bom te ver, estou meio preocupada com você. Acho que não deve fazer isso, ainda há tempo para desistir. Pense comigo as pessoas tem que gostar de você pelo que é e você não deve forçar isso. Você sabe o que aconteceu comigo e que infelizmente pode acontecer com você também. Acho que deve repensar e ver que você é incrível da forma que é e não precisa de nada disso.
- Eu pensei muito nisso a noite inteira Júlia. Aliás, depois de ontem acho que é mesmo necessário. Me encontrei com Gustavo como havia te dito mas infelizmente nossa conversa foi mal sucedida.Eu deixei a insegurança e a desconfiança que tenho nesse tipo de sentimento me invadir e acabei deixando transparecer para Gustavo que não acreditava nele e que eu era apenas mais uma em que ele estava dizendo a mesma coisa.Sei que ainda mais nos dias de hoje isso é o que mais acontece mas posso sentir que com ele é diferente e mesmo assim acabei me equivocando e dizendo o que não devia.Como resultado ele foi embora alterado e nem responde minhas mensagens.Mandei uma mensagem dizendo para ele me encontrar ás 5 horas no shopping caso ele quisesse conversar novamente comigo mas não sei se ele irá, para dizer a verdade é muito provável em que ele não vá. Depois disso conversei com Dona Clara e desabafei tudo o que sentia e acabei descobrindo algo a mais da história de Marcelo a qual prometi que não iria contar para ninguém e por isso não te conto. Só posso dizer que é algo muito relevante e talvez seja até aceitável parte daquele comportamento estranho do garoto e sei lá, mas estou com vontade de ajudá-lo.
- Nossa Sophia, quanta coisa acontece em sua vida. Sério, você deveria vender sua história para uma série, com certeza faria bastante sucesso e de quebra você ganharia bastante dinheiro. Mas brincadeiras a parte acho que você deve deixar Marcelo para lá. Ele é problemático, sempre foi e qualquer coisa que seja acho que você não deve se intrometer. Sei que gosta de ajudar até mesmo quem te chateia, mas penso que se você tentar ajudá-lo mesmo pode acabar se machucando e arrependendo. Você já tem problemas demais com sua família, agora com Gustavo para querer criar mais um não acha? Pensa no que eu te falei com calma e depois me diga como irá proceder. Agora vamos para a sua transformação, já que você insiste eu não posso te obrigar a não querer isso, afinal a vida é sua. Pensei em algumas ideias, mudanças leves, mas, no entanto significativas e acho que você irá gostar.
- Sei que você vai discordar disso também, mas até por consideração á Clara eu preciso ajudar Marcelo nem que seja de longe e ele nem fique sabendo, ou melhor, se ele não descobrir é até melhor. Não sei como farei isso, mas sei que vou descobrir e agora não é o momento para pensar nisso. Vamos ao que interessa ao que eu mais quero nesse instante, o que eu preciso arriscar. Vamos á transformação!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012 1 comentários

Capítulo 24


Sinceramente já estava cansada daquela situação principalmente com Gustavo. As coisas na minha vida estão atrasadas e tudo que eu crio expectativa ou planejo simplesmente não acontece. Talvez esteja sendo mesmo esse meu mal, esperar muito de uma coisa antes de acontecer. Dessa forma além de me decepcionar estou deixando também de viver o presente. O fato é que esperei tanto da conversa com Gustavo, como havia falado com Júlia estava certo na minha cabeça que a gente iria conversar e definir nossa situação de vez e depois eu conversaria um pouco com Dona Clara, pois já havia algum tempo que eu não a via e ela sempre tem bons conselhos para dar e me entende melhor até do que minha família, mas também isso não é difícil. Não consegui compreender o porque de apenas algumas palavras que saíram automaticamente fizeram o garoto se irritar ao ponto de me deixar sozinha ali naquela sorveteria.Está certo que eu sou um pouco desacreditada em muita coisa mas não era motivo para ele ir embora.Se ele gostasse mesmo de mim como diz teria ficado e tentado me entender melhor.Fiquei chateada pois queria mesmo desabafar com Gustavo e tinha demorado muito para aceitar a ideia para ela fracassar assim.Eu não podia fazer nada,aliás deveria seguir com meu dia para não deixar meu presente se desmanchar sem ao menos eu tê-lo vivido.Mais do que nunca precisava conversar com Dona Clara sobre tudo.
Cheguei na casa de Clara e tive a “felicidade” de me deparar com Marcelo que como já era de se imaginar mal me cumprimentou e na verdade só me deu um “Oi” por causa de sua avó.Ficou evidente que ele não estava de saída como Clara disse quando eu cheguei,ele só não queria estar no mesmo ambiente que eu ainda mais depois de domingo, o dia que se transformou de “Máscaras que caem” para “Máscaras que eternamente prevalecem”. O pior de tudo era ter que passar como a mentirosa da história dizendo a verdade. Não existe coisa pior do que isso, ou melhor existe sim,pior do que dizer a verdade e ser tratada como a paranóica mentirosa é os seus próprios pais não perceberem que a verdade real estava em frente a seus olhos.Resolvi contar para Clara toda a história do início ao fim pois com certeza ela acreditaria em mim e veria o absurdo que era essa confusão.Sim, porque é quase impossível existir uma história tão ridícula assim mas que ao mesmo tempo se torne tão relevante na vida de alguém,no caso na minha. Contei tudo para aquela senhora com tanta emoção em cada palavra que as lágrimas foram inevitáveis. Eu não queria chorar, mas contar a situação absurda me fez reviver toda aquela cena em minha mente. Desabafei até mais do que previa pois na verdade queria ter conversado mais tempo com Gustavo mas como havia dado errado tive que falar com Clara.De uma forma ou outra foi bem melhor que o dia tenha sido assim porque ela me entendia melhor e quando eu falo com Clara alivio todas as angústias e incertezas que ás vezes surgem na minha cabeça.Mas o foco principal da nossa conversa era mesmo o neto dela,pois eu estava indignada com o que ele havia me dito no domingo.Desde que nos conhecemos ele me trata dessa forma assim como também trata a maioria das pessoas e gostaria mesmo de entender o problema daquele garoto.
-Sabe Clara desde que eu me mudei minha vida está bem diferente de antes. Não sei se é a minha vida ou se sou eu mesma. Como te expliquei quero fazer algumas mudanças em mim sem perder quem eu sou, mas desde domingo isso ficou um pouco mais difícil. Meus pais não conseguirem perceber a farsa com tantos furos de Letícia tudo bem, mas Gustavo acreditar naquela paranóia e ainda por cima me acusar como fez sempre querendo me atingir já cansei de tolerar. O melhor amigo dele acreditou em mim, ou melhor, nem sei mais se eles são melhores amigos, pois ele ficou super irritado com Gustavo quando ele tentou me defender. Eu só gostaria de entender como ele pode ser tão burro a ponto de perceber que a namorada dele não é quem ele pensa. Ele convive com ela a maior parte do tempo e ela não conseguiria manter essa personalidade mentirosa e convincente do jeito que ele diz por tanto tempo. Não que ela não faça isso e nem tenha experiência, mas é que nesse caso é diferente sabe. Eu sei que ele prefere acreditar na mentira porque a verdade leva a mim que como ele mesmo diz sou a “aberração”. Está certo que ele não goste de mim e me trate desse jeito, mas ele também trata o resto do mundo assim. Não com a mesma intensidade que me trata, mas ele só é mais convivível com você e a Letícia. Clara preciso muito entender, qual é o problema de seu neto?
- Sophia, gosto bastante do seu jeito decidido de ser e essas suas dúvidas e vontade de mudar é completamente normal ainda mais na sua idade. Você é muito parecida comigo na maneira de pensar e é por isso que me simpatizei com você logo de cara. E por mais estranho que possa parecer eu ainda acredito que você e Marcelo possam dar certo. Você está interpretando mal o jeito de ser dele. Tenho certeza que ele não acreditou em você porque está hipnotizado por sua irmã. Repreendo essas atitudes dele, mas tenho certeza que ele deve estar agindo assim porque as férias não foram do jeito que ele havia planejado.
- Sei que ele é seu neto e que a senhora quer protegê-lo sempre. Mas temos que encarar que ele é um tremendo idiota. Sei muito bem que o problema não é relacionado com férias fracassadas, tem algo a mais. Porque fugir do assunto, não quero ser curiosa, mas acho que seria bom eu saber sobre isso até para entender o porque de a senhora acreditar que possa haver tanta química entre eu e Marcelo.
- Você é boa de argumentação Sophia, cada vez percebo que é mais parecida comigo e realmente a quem estou querendo enganar não é mesmo? Eu não deveria lhe contar isso e quero que isso fique apenas entre eu e você.Marcelo sempre foi um garoto fechado e nem tão sociável mas ele não era como posso dizer,tão agressivo e desinteressado do mundo.Acontece que ele se sente meio culpado pela separação dos pais.Foi ele que descobriu que o próprio pai estava traindo a mãe.Ele era mais novo mas não achava justo as coisas serem assim e acabou contando a verdade para a mãe que investigou secretamente e descobriu tudo que havia por trás.Na época da descoberta a amante do pai estava grávida e hoje em dia ele é casado e mora com a mulher e o filho.Foi insuportável para Marcelo descobrir que o pai tinha outra mulher que não era a mãe dele e ele se sente culpado te ter contado a mãe mesmo sendo o certo a fazer e sabendo que ela não merecia passar por aquela situação embaraçosa.Acontece que ele viu o sofrimento da mãe e pensa que foi o responsável por tudo isso pois a medida que ele ia crescendo o casamento dos pais ia esfriando e muitas brigas começavam por causa de algo que ele dizia,então ele meio que pensa que o pai decidiu procurar outra mulher por causa dele quando na verdade ele não tem culpa de nada.E contar para a mãe sobre a traição foi difícil pois de início minha filha não acreditou mas logo resolveu investigar e descobrir.Foi muito doloroso para ela e ver a própria mãe naquele estado e sua família destruída não foi fácil para ele.Como se não bastasse isso ele tem pela lei que passar alguns finais de semana com o pai e parte das férias.O relacionamento deles não é dos melhores com tudo isso..E poucos meses depois dessa reviravolta na vida dele o seu tio preferido que o apoiava,aconselhava e lhe tranqüilizava teve uma doença grave e não resistiu. Desde aí Marcelo vem apresentando essa indignação com o mundo e de certa forma o entendo. Compreendo também a parte de que ele não queira que as pessoas saibam e ele acabou se deixando levar por essa negatividade e tem medo que as pessoas o “conheçam” realmente. Depois da morte do tio ele tem a mim para contar, pois sua mãe o preocupa com ele, mas depois do trauma não é a melhor pessoa do mundo em colocar alguém de bom humor e agora a Letícia que mesmo mentindo dessa forma consegue deixar ele menos de mal com a vida. Claro que não entendo isso, pois sempre soube que era você de que ele precisava para esquecer isso tudo. De certa forma é mesmo você, pois o caderno de fato é seu. Agora ele só precisa de tempo para assimilar a verdade.
Nunca poderia suspeitar que a vida de Marcelo fosse assim tão problemática. Por isso dizem que não devemos julgar um livro pela capa ou a pessoa pelo que aparenta. Mas mesmo assim não via motivo para que ele tratasse as pessoas desse jeito e principalmente quisesse fugir da verdade e de quem é. Mesmo que ele assimilasse a verdade quem não assimilaria e esqueceria o fato de ele não acreditar em mim e me atingir tanto seria eu mesma. Clara ainda tem a convicção de que podemos dar certo. Mesmo eu querendo o ajudar a deixar de pensar assim, pois isso vai matá-lo aos poucos não significava que um dia nós dois iríamos dar certo ao menos na amizade.
 
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