sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Capítulo 18

Acertei em cheio. Era mesmo meu pai que havia chegado mais cedo para ter a tal conversa. Pelo menos fiquei um pouco melhor, pois pelo menos eu estava um pouco tão “importante” quanto o trabalho dele. Ele também vinha acompanhado de Letícia, pois querendo ou não aquela conversa dizia respeito a ela também. O senhor Afonso já começou a discussão bem irritado comigo por causa do meu comportamento da noite anterior me repreendendo por até uma olhada de canto de olho.

- Eu pensei muito Sophia e o seu problema é mais grave do que pensei. Não bastasse o seu péssimo desempenho escolar agora você também está se tornando rebelde e acusando sua irmã de coisas inúteis para tentar aliviar sua culpa de ter saído sem avisar e de tê-la agredido.

- Mas não é possível! Não importa o quanto eu me imponha aqui, não tenho voz só porque posso nem entrar na faculdade como Luís, não tiro notas tão boas e nem sou modelo como minha irmã. Sinto muito não poder agradar e não ser quem vocês queriam que eu fosse, mas essa é quem eu sou e vocês não irão me mudar.

- Cala essa boca agora, você não tem esse direito por aqui. Letícia me contou o outro lado da história e como você estava tentando a separar do namorado e até mesmo sabotar seu trabalho na agência. Peça desculpa a ela agora mesmo ou se arrependerá amargamente.
Eu mal podia acreditar no que estava acontecendo. Meu próprio pai não acreditava em uma palavra que eu dizia e acreditou em minha irmã em que eu fosse mesmo capaz de sabotá-la só porque ela tem mais “potencial” do que eu e paga de boazinha, meiga que nunca faz mal a ninguém.
- Não pedirei desculpas por algo que não tenho culpa. Como assim te sabotar Letícia, em que nível de desespero você chegou em?
- Me desculpe Sophia por eu ás vezes não te dar a atenção que você busca de mim e por ás vezes dar motivos para que você discuta comigo. Mas eu quero só o seu bem minha irmãzinha!
Não podia acreditar era no que minha irmã havia falado. Me pedir desculpas e dizer que estava errada e ainda por cima me chamar de irmãzinha ironicamente. É por isso que acho que ela deve largar a carreira de modelo e ser atriz o quanto antes. Agora tudo estava pior que antes, com essa falsa desculpa da minha irmã se eu continuasse com a ideia de não pedir desculpas e olhando como meu pai estava nervoso iria tudo piorar para mim. Estava com uma raiva enorme daqueles dois, só gostaria de ter alguém na família que me entendesse. Minha irmã saiu como a vítima da história e o caderno meu pai realmente acreditou que falei isso só para acusar minha irmã. Tive que me desculpar do mesmo modo falso que minha irmã, se não fizesse isso talvez nem teria chance de um dia mostrar para todos ali quem ela era realmente e só iria dificultar o meu convívio naquela casa, pois infelizmente não tenho outro lugar para morar. Júlia também me ajudaria a contar a verdade do caderno para Marcelo e creio que isso mostraria um pouco a meus pais quem ela era mesmo. Foi o pedido de desculpas mais amargo e sem vontade da minha vida.
- Me desculpa Letícia. Não tenho sido mesmo uma boa irmã para alguém tão disposta a ajudar e tão talentosa quanto você.
- Minha filha, não queria te punir sempre, mas realmente acho que já está na hora de crescer mentalmente. Vai entrar no ensino médio e espero receber um retorno seu melhor do que dos anos anteriores. Agora terei que voltar para meu trabalho e você ainda não pode sair de casa até o final de semana para pensar na conseqüência de deus atos.
Meu pai nunca teve uma conversa de verdade com a gente. O tratamento que recebemos depende desse retorno que ele espera. Como nunca achei algo que fosse boa de fato e nem vou tão bem no meu desempenho escolar sou um peso para ele e acreditar em algo que digo ou simplesmente me importar comigo de verdade é impossível a não ser que mude quem eu sou e passe a fazer algo que meu pai possa contar a todos os amigos e se orgulhar de mim. Só queria ter uma família normal em que os pais aceitassem os filhos como são, sei que não é possível concordar em tudo, mas queria ser tratada da mesma forma que meus irmãos pois desse jeito parece que há algo errado em mim.
Meu pai voltou para o escritório e já que ele não estava mais em casa, Letícia voltou a ser quem era e saiu sem avisar para onde ia. Era a oportunidade para eu também sair, mas decidi esperar até o final de semana porque não queria me encrencar e correr o risco de não sair durante as férias inteiras. Presumi que ela teria ido encontrar Marcelo. Não é possível que esse garoto seja tão burro assim em não perceber que minha irmã não é quem diz, não é possível que ela não tenha anotado nem um simples número de telefone perto dele. Fiquei pensando que talvez fosse paranóia em que ele tivesse lido o caderno, mas minha irmã já havia meio que entregado isso, minha intuição não estaria errada.
Liguei no serviço de Júlia fingindo ser uma cliente que gostaria de saber se algum lançamento havia chegado. Não queria interromper seu trabalho, mas estava mesmo precisando falar com ela.
- Júlia, aqui é a Sophia. Preciso muito falar com você, mas não posso sair até o final de semana. Meu pai veio aqui e só deu ouvidos a minha irmã. Isso tem que parar, agora quero mais que nunca contar a verdade para Marcelo, mesmo que essa não seja a verdade preciso correr esse risco.
- Esse livro que procura ainda não chegou na loja. Mas te ligo mais tarde para poder te avisar da data em que Máscaras que caem chegará em nosso estoque.
A Júlia sabia muito bem não dar manotas quando alguém estava por perto. Com certeza ela pensaria em um bom jeito de desmascarar Letícia. Mal podia esperar por isso. A tarde demorou a passar e por volta das 19:00 horas Júlia me ligou.
- Me desculpe por hoje à tarde. Meu chefe estava do meu lado. Pensei em como você pode mostrar sua letra para Marcelo. Já que só pode sair no fim de semana, use isso a seu favor. Marcelo deve ir aí almoçar no domingo não é? Então propositalmente você estará escrevendo no caderno e em seguida vai pedir para que ele leia para ver se gostou. Estarão todos perto, inclusive seus pais e sua irmã. Marcelo verá que o caderno é seu, a letra é sua e não terá dúvidas do engano. Será perfeito!
- É verdade. Mas estava pensando se de fato o Marcelo leu o caderno. Pode ter sido Gustavo e assim vou passar é vergonha.
- Acredite na sua intuição em que você diz ser forte. Tenho certeza que Letícia mostrou seu caderno para Marcelo, se aperfeiçoou em ser você e está enganando ele esse tempo todo.
- Você tem razão mesmo. E na segunda passo aí na livraria para te contar os detalhes da execução desse plano e tudo que aconteceu desde o último dia que saímos.
Estava muito ansiosa para o final de semana. Estava doida para ver a cara que todos fariam quando descobrissem a verdade principalmente a de meu pai que veria que Letícia nem é tão “verdadeira” como ele pensa.
Finalmente chegou o final de semana. Naquele domingo Marcelo almoçaria na minha casa. A campainha tocou e mesmo ele não gostando de mim e eu não indo com sua cara fiz questão de abrir a porta. Era hoje que o lançamento de “Máscaras que caem” que Júlia havia me falado no telefone ocorreria com sucesso na minha casa.

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