sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Capítulo 7

Era segunda-feira novamente. Faz uma semana que cheguei aqui. Meu pai voltou a trabalhar hoje e minha mãe também está retomando aos poucos seus negócios. Neste próximo final de semana ela já ira cobrir um evento. Acordei ainda abalada com todos os acontecimentos do fim de semana. E não consegui esconder de ninguém como estava me sentindo confusa, era como se minha vida de antes não fizesse mais sentido e eu que não me importava com nada, nenhum tipo de comentário ou situação em que tentavam me afetar agora estava com uma necessidade imensa de mudar alguns aspectos da minha vida. Senti que se continuasse vivendo dessa forma futuramente não teria uma “vida” para me lembrar. Constatei que esses sentimentos só poderiam ser por causa do desaparecimento do caderno, afinal ele é como uma parte minha então é como se tivessem me arrancado de mim mesma e enquanto não o encontrasse não poderia ficar tranqüila.Eu podia estar até meio incerta sobre o rumo de minha vida e ser pessimista mas nunca me deixei abater por essas coisas e não seria agora que iria entregar os pontos.Decidi ir até a livraria perto do supermercado para quem sabe encontrar algo para customizar a capa do meu caderno provisório.Já que não recuperei o meu por enquanto,um modo de me tranqüilizar era escrever em outro e depois juntar os dois.Estava mesmo precisando mudar,o outro estava muito danificado e resolvi também aproveitar o recomeço do meu caderno para fazer um texto contando um pouco de toda minha vida,desde quando me entendo por gente até os dias atuais e comparar como era antes e como estou agora.Parece até meio nostálgico mas acho que seria bom falar sobre isso até mesmo para uma auto-reflexão que no outro nunca havia feito.
No caminho para a livraria encontrei Marcelo que passou por mim e nem me cumprimentou.
- Tenha um ótimo dia também, garoto de dupla personalidade revoltado que brigou com a vida e acha que todos tem culpa disso. Falei em um tom bem irônico.
- Você também garota esquisita que esconde de todos que odeia a vida com esse jeito de que não liga para nada e morre de raiva da irmã porque queria ser bonita, criativa e se expressar tão bem quanto ela. Marcelo disse para mim e andou rapidamente para não ter que ouvir minha resposta em relação a sua provocação.
Não pude acreditar no que havia escutado. Como assim, Letícia era criativa e se expressava bem?Bonita eu teria mesmo que concordar, mas isso já era demais. Minha irmã nunca foi criativa, sempre tirou as piores notas em artes e em produção de texto e só se expressaria bem se isso fosse o mesmo que tentar atingir as pessoas, mas pelo que sei isso não se chama se expressar bem e sim ter gosto para provocar a discórdia. Ela estava mesmo fingindo ser outra pessoa e o pior é que eu estava contribuindo com isso e teria que continuar a investigar se ela é a responsável pelo desaparecimento do caderno. Só que através do comentário de Marcelo eu percebi que estava realmente perdendo minha essência, pois se fosse outra época teria ido atrás dele e lhe dado um belo tapa para ele aprender a deixar de ser tão insuportável. Mas se eu já estava em dúvida sobre quem eu era realmente antes escutar isso tão inesperadamente querendo ou não acabou me atingindo e eu quase voltei para casa e desisti de criar até o caderno novo.
- Sophia, não estou te reconhecendo. Você está ficando cada vez mais patética e paranóica. Você sempre foi forte e não dava a mínima para comentários idiotas, não seria agora que recomeçou a vida em um lugar novo que vai começar a se importar com essas provocações. Ainda mais vindo da sua querida irmã e o namoradinho dela. Gritei isso para mim mesma no meio da rua e como tenho muita sorte justamente na hora que passava um grupo de garotos próximos a mim. Logicamente eles me acharam uma louca e saíram dando gargalhadas e fazendo piadinhas sobre o que tinham visto. Como não estava em um bom dia gritei “palavras carinhosas” bem alto para o bando e fiquei bastante constrangida quando um senhor que também estava passando no momento me deu um baita xingamento e desaprovação.Morri de vergonha,não tinha como tudo ficar pior do que já estava. Sempre quando algo dá errado eu começo a gritar comigo mesma insultos e coisas para me fazer reagir e o pior é que por uma grande ironia do subconsciente escolho os piores momentos, lugares e situações menos apropriadas para me manifestar e decretar guerra com a minha pessoa. Eu havia me descontrolado e fazia muito tempo que isso não acontecia e definitivamente esse não era um bom sinal.
 O importante é que depois daquela tumultuada caminhada cheguei a livraria e encontrei várias coisas legais para customizar meu caderno.A ideia de o customizar e de recomeçar novamente me fez ficar de bom humor novamente.É impressionante como essas coisas que mexem com a minha imaginação e capacidade de criação me deixam melhor.Isso é uma forma que encontro para me acalmar quando as coisas não vão muito bem.E claro já que estava por ali mesmo tive dei uma olhada nos lançamentos que chegaram na loja que aliás era incrível.A livraria é muito aconchegante.Da primeira vez visitei nem havia prestado muita atenção a todos os detalhes do espaço quanto hoje .Tem uma lanchonete interna,espaço com internet sem fio liberada e uma espécie de jornal interno que da dicas de leitura,faz críticas sobre livros e uma coluna em que os leitores podem escrever textos que se aprovados são publicados.Achei super incrível e penso em futuramente escrever um texto para o jornal e quem sabe o ver publicado ali pois sempre quis publicar algo mas nunca tive coragem de enviar a lugar algum e talvez essa fosse uma boa oportunidade. Não resisti e resolvi levar um dos lançamentos que me chamou a atenção. Já estava me dirigindo ao caixa quando de repente alguém tropeçou em mim e por pouco não deixo tudo que estava carregando cair. Era uma jovem aprendiz da livraria que aparentava ter a minha idade. Simpatizei logo que vi pela primeira vez. Ela aparentava ser bem desastrada e, porém bem criativa, pois mesmo não sendo permitido ela conseguiu customizar seu uniforme discretamente. Parecia ser bem otimista e de bem com a vida e com certeza era de conversar muito, pois logo foi me pedindo mil desculpas e se apresentando de uma maneira bem estranha.
-Ai, desculpa mesmo. Eu não vi você. Não que você seja invisível, mas eu estava distraída. Você deve estar pensando o contrário né?Deve estar me achando bem distraída e uma sem educação. Nem me apresentei. Eu sou Júlia, mas pode me chamar de Juju, Juli, July, Ju ou da forma que preferir, afinal dizem que o cliente tem sempre razão por aqui apesar de discordar um pouco dessa frase porque em algumas situações o cliente é o maluco que quer acabar com a vida do vendedor.Mas com certeza não quer me ouvir falar sobre isso então voltando a minha apresentação nome pequeno é assim,vão inventando um tanto de apelidos e quando você vê tem um nome diferente para cada lugar que vai. Ta vendo, já estou falando demais, que deselegante da minha parte. E você como se chama? Júlia disse isso de forma tão rápida que mal deu para entender tudo que ela dizia.
- Me chamo Sophia.
A garota deve ter ficado super decepcionada com minha curta resposta, mas aquele dia mesmo com meu humor tendo melhorado não estava com a mínima vontade de conversar. Mas ela não se chateou com isso e continuou conversando comigo dizendo que nunca tinha me visto por ali, perguntou um pouco sobre quem eu era, o que buscava ali e que ela estaria disposta a ajudar em tudo que fosse do seu alcance. Disse que já tinha encontrado tudo o que precisava, mas agradeci sua dedicação. Júlia também se simpatizou comigo e me convidou para voltar sempre mesmo que não fosse comprar nada ela poderia me mostrar os lançamentos e ainda aproveitar para bater um papo. Ela estava querendo ser minha amiga e não posso negar que eu gostei bastante dela. Paguei minhas compras e despedi dela dizendo que voltaria quando desse.
Chegando em casa quando ia começar a customizar meu novo caderno vi que no meu celular tinha mais uma mensagem de Gustavo que dizia que quanto mais o ignorasse mais ele lembraria de mim e que havia conversando com Marcelo sobre mim.A mensagem terminava assim e fiquei super curiosa querendo descobrir o que os dois haviam conversado.Mas se eu respondesse iria dar oportunidade de aproximação de Gustavo comigo e se ignorasse presumi que todos os dias chegariam mensagens dele para me deixar curiosa no meu celular.Dessa vez não apaguei a mensagem de Gustavo.Resolvi subir para meu quarto e começar a customização do meu novo caderno pois isso me tranqüilizaria e dessa forma pensaria melhor no melhor modo de agir nessa situação.

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