segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Capitulo 16

Quando percebi já havia falado tudo o que pensei. Estava cansada de agüentar tudo algumas vezes calada, em outras não me importando ou fingindo e em algumas horas revidar as provocações e humilhações que enfrentava, mas de fato nunca daquela intensidade que tinha falado. Me sentia aliviada,desabafar daquele jeito e dizer que algo tinha que mudar funcionou como algo que tirou todos ou maus pensamentos e negatividade pelo menos naquele instante.Como eu queria que Marcelo e Gustavo estivessem ouvido tudo que eu falei.Se principalmente Marcelo tivesse escutado tudo que disse eu não precisaria me preocupar em como contar a ele sobre a história do caderno e de como minha irmã estava sendo falsa esse tempo todo mas por outro lado fiquei até contente de ele não ter escutado, pois sabia que tinha falado tudo que era verdade mas não seria desse jeito desesperado a melhor maneira de contar isso a ele até porque ele nunca se simpatizou comigo e descobrir que eu sou a garota que escreve os textos que ele gostou achando que quem escrevia era minha irmã não seria algo muito fácil de se aceitar. Outro problema também é que não sei se realmente ele leu o caderno, apesar de minha intuição dizer que sim eu não podia ter cem por cento de certeza. Havia pensando nessa hipótese após todas as suspeitas de minha irmã que conheço muito bem e pela sua confissão na briga dizendo algo sobre o caderno impressionar alguém. Também penso que pode ser Gustavo que leu e isso até conseguiria explicar sua atração por mim, ele deve ter lido, mas algo ainda me diz que Marcelo é o que mais se aprofundou em tudo que estava escrito ali até porque eles começaram a namorar exatamente na mesma época em que constatei o desaparecimento. Após ter falado tudo aquilo nem estava prestando atenção ao mundo real, mas quando Letícia deu um berro dizendo que era tudo invenção minha acabei voltando à situação presente.
- É tudo mentira dessa garota! Como você pode me acusar assim? Você fala isso porque sempre teve inveja de mim como falou a pouco e não suporta meu namoro com Marcelo. Você mesma estragou seu caderninho ridículo e agora quer culpar a mim como sempre faz por não conseguir atingir seus objetivos. Te aconselho a parar de criar confusão por causa de um mísero local onde você escreve e comece a estudar matemática pois as aulas já estão quase voltando e o ensino médio vai ser bem pior para você querida.
- Deixa de ser dissimulada. Eu sabia que você ia falar que era invenção minha e quer saber de uma vez por todas eu cansei disso tudo, cansei da sua provocação barata dizendo que eu tenho inveja porque não sou como você e agora a pouco estava ironizando, mas que culpa eu tenho se você não consegue perceber nem isso. E quanto ao Marcelo eu nunca fui com a cara dele, só acho que ele não deve continuar sendo enganado e pensando que namora uma pessoa que de fato não existe, não passa de uma máscara sua que, aliás, você usa com todos para conseguir o que quer Letícia.
- Parem já com essa conversa paralela e inútil garotas. Disse minha mãe que pelo jeito que falou percebi que já não agüentava mais aquela conversa que haveria se tornado um diálogo de acusações sem fim.
- Escutem agora sua mãe meninas. Sophia você não tem o direito de sair de casa sem avisar aonde vai muito menos quando não está autorizada a isso. Quanto a essa história de caderno acho mesmo muita infantilidade, mas se isso for verdade mesmo, saiba que você também não tem esse direito Letícia. E sua irmã tem mesmo razão, você deve se preocupar com as aulas que estão para voltar, com suas notas que não são tão boas quanto as de...
Eu interrompi meu pai nessa parte. Demorei tanto tempo para de fato dizer tudo que pensava que não iria continuar escutando calada fingindo que não me afetava naquela altura do campeonato, também não queria ser dramática por isso resolvi ser um pouco irônica e direta.
- É disso que estou falando, não importa o que eu faça ou diga, não importa o quão errada Letícia e Luís estejam. Nessa família eu sou apenas alguém que não tem opinião, que tira notas ruins e não nasceu talentosa como eles não é mesmo?
Então pensem como quiser, eu estou totalmente errada na história porque saí sem permissão e depois inventei a história do caderno para prejudicar Letícia que afinal morro de inveja e tem razão o caderno pode ser algo inútil, mas acontece que vocês nunca entenderiam seu significado e com certeza ele é bem mais útil do que continuar essa conversa em que não existe o meu lado. Boa noite!
E saí dali mesmo com meus pais me dizendo para voltar e que a conversa não tinha acabado e me tranquei no meu quarto. Meu pai estava bastante alterado tanto que pensei que iria derrubar a porta e parti para agressão física, eu sabia também que minha atitude pioraria muito o convívio por ali e que agora não teria mais a liberdade de ir e vir como antes, mas dizer tudo que pensava me fez perceber o quanto as coisas estavam ruins e precisavam ser mudadas.Eu também precisava ter voz naquela casa e sabia que se não reagisse assim e continuasse “aceitando” tudo isso nunca iria acontecer. Antes de me mudar eu não sentia essa necessidade de mudança, chega até ser engraçado dizer isso, mas acho que ir morar naquela cidade, passar por tudo que estava passando, essa descoberta de sentimentos que nunca havia sentido me fez ver que eu podia ser outra pessoa. Não que eu quisesse mudar a Sophia que eu era e sou até hoje, na verdade só queria ser mais espontânea, enfrentar as dificuldades de uma forma diferente, me conhecer um pouco melhor. Já estava tarde e meu pai havia desistido de fato de brigar comigo naquela noite. Eu sabia que logo pela manhã muita coisa iria acontecer e aquela conversa continuar, tudo iria mudar até porque eu estava disposta a isso. Não deixaria de ser quem eu era, apesar dos meus defeitos gosto de quem sou apenas iria mostrar esse meu outro lado que estava conhecendo, me impor mais. Estava olhando ali para o meu velho caderno que gerou toda essa confusão e vendo também o novo que ainda não havia muita coisa escrita. Naquele momento percebi que o antigo representava alguém que eu já conhecia muito bem, ao contrário do novo que representava uma pessoa que ainda não conheço muito bem e que descubro um pouco a cada dia. Por isso resolvi continuar usando o novo caderno e mesmo com todos achando que continuar escrevendo ali era uma coisa inútil. Relatei todos os acontecimentos do dia, falei sobre Gustavo e Marcelo. Estranhamente além de serem melhores amigos eles estavam ligados em minha mente de alguma forma: eu não me simpatizei com os dois de cara, mas Gustavo havia sendo até uma pessoa bacana comigo e Marcelo certamente me instigava por causa de seu comportamento estranho, a aposta de Clara em que nos daríamos bem e por causa do caderno. Não queria me comportar como romântica, mas era inevitável, pelo menos esse meu lado por enquanto apenas eu conhecia apesar do medo de que mais cedo ou mais tarde mais pessoas conhecessem. Por enquanto ao olhar de meus pais e irmãos eu era a revoltada ingrata, tenho certeza, mas isso não me importava. O que importa é que mesmo com toda confusão e dificuldades que surgirão na manha seguinte eu estava finalmente me sentindo bem comigo mesma.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
;