sexta-feira, 30 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 7

Era segunda-feira novamente. Faz uma semana que cheguei aqui. Meu pai voltou a trabalhar hoje e minha mãe também está retomando aos poucos seus negócios. Neste próximo final de semana ela já ira cobrir um evento. Acordei ainda abalada com todos os acontecimentos do fim de semana. E não consegui esconder de ninguém como estava me sentindo confusa, era como se minha vida de antes não fizesse mais sentido e eu que não me importava com nada, nenhum tipo de comentário ou situação em que tentavam me afetar agora estava com uma necessidade imensa de mudar alguns aspectos da minha vida. Senti que se continuasse vivendo dessa forma futuramente não teria uma “vida” para me lembrar. Constatei que esses sentimentos só poderiam ser por causa do desaparecimento do caderno, afinal ele é como uma parte minha então é como se tivessem me arrancado de mim mesma e enquanto não o encontrasse não poderia ficar tranqüila.Eu podia estar até meio incerta sobre o rumo de minha vida e ser pessimista mas nunca me deixei abater por essas coisas e não seria agora que iria entregar os pontos.Decidi ir até a livraria perto do supermercado para quem sabe encontrar algo para customizar a capa do meu caderno provisório.Já que não recuperei o meu por enquanto,um modo de me tranqüilizar era escrever em outro e depois juntar os dois.Estava mesmo precisando mudar,o outro estava muito danificado e resolvi também aproveitar o recomeço do meu caderno para fazer um texto contando um pouco de toda minha vida,desde quando me entendo por gente até os dias atuais e comparar como era antes e como estou agora.Parece até meio nostálgico mas acho que seria bom falar sobre isso até mesmo para uma auto-reflexão que no outro nunca havia feito.
No caminho para a livraria encontrei Marcelo que passou por mim e nem me cumprimentou.
- Tenha um ótimo dia também, garoto de dupla personalidade revoltado que brigou com a vida e acha que todos tem culpa disso. Falei em um tom bem irônico.
- Você também garota esquisita que esconde de todos que odeia a vida com esse jeito de que não liga para nada e morre de raiva da irmã porque queria ser bonita, criativa e se expressar tão bem quanto ela. Marcelo disse para mim e andou rapidamente para não ter que ouvir minha resposta em relação a sua provocação.
Não pude acreditar no que havia escutado. Como assim, Letícia era criativa e se expressava bem?Bonita eu teria mesmo que concordar, mas isso já era demais. Minha irmã nunca foi criativa, sempre tirou as piores notas em artes e em produção de texto e só se expressaria bem se isso fosse o mesmo que tentar atingir as pessoas, mas pelo que sei isso não se chama se expressar bem e sim ter gosto para provocar a discórdia. Ela estava mesmo fingindo ser outra pessoa e o pior é que eu estava contribuindo com isso e teria que continuar a investigar se ela é a responsável pelo desaparecimento do caderno. Só que através do comentário de Marcelo eu percebi que estava realmente perdendo minha essência, pois se fosse outra época teria ido atrás dele e lhe dado um belo tapa para ele aprender a deixar de ser tão insuportável. Mas se eu já estava em dúvida sobre quem eu era realmente antes escutar isso tão inesperadamente querendo ou não acabou me atingindo e eu quase voltei para casa e desisti de criar até o caderno novo.
- Sophia, não estou te reconhecendo. Você está ficando cada vez mais patética e paranóica. Você sempre foi forte e não dava a mínima para comentários idiotas, não seria agora que recomeçou a vida em um lugar novo que vai começar a se importar com essas provocações. Ainda mais vindo da sua querida irmã e o namoradinho dela. Gritei isso para mim mesma no meio da rua e como tenho muita sorte justamente na hora que passava um grupo de garotos próximos a mim. Logicamente eles me acharam uma louca e saíram dando gargalhadas e fazendo piadinhas sobre o que tinham visto. Como não estava em um bom dia gritei “palavras carinhosas” bem alto para o bando e fiquei bastante constrangida quando um senhor que também estava passando no momento me deu um baita xingamento e desaprovação.Morri de vergonha,não tinha como tudo ficar pior do que já estava. Sempre quando algo dá errado eu começo a gritar comigo mesma insultos e coisas para me fazer reagir e o pior é que por uma grande ironia do subconsciente escolho os piores momentos, lugares e situações menos apropriadas para me manifestar e decretar guerra com a minha pessoa. Eu havia me descontrolado e fazia muito tempo que isso não acontecia e definitivamente esse não era um bom sinal.
 O importante é que depois daquela tumultuada caminhada cheguei a livraria e encontrei várias coisas legais para customizar meu caderno.A ideia de o customizar e de recomeçar novamente me fez ficar de bom humor novamente.É impressionante como essas coisas que mexem com a minha imaginação e capacidade de criação me deixam melhor.Isso é uma forma que encontro para me acalmar quando as coisas não vão muito bem.E claro já que estava por ali mesmo tive dei uma olhada nos lançamentos que chegaram na loja que aliás era incrível.A livraria é muito aconchegante.Da primeira vez visitei nem havia prestado muita atenção a todos os detalhes do espaço quanto hoje .Tem uma lanchonete interna,espaço com internet sem fio liberada e uma espécie de jornal interno que da dicas de leitura,faz críticas sobre livros e uma coluna em que os leitores podem escrever textos que se aprovados são publicados.Achei super incrível e penso em futuramente escrever um texto para o jornal e quem sabe o ver publicado ali pois sempre quis publicar algo mas nunca tive coragem de enviar a lugar algum e talvez essa fosse uma boa oportunidade. Não resisti e resolvi levar um dos lançamentos que me chamou a atenção. Já estava me dirigindo ao caixa quando de repente alguém tropeçou em mim e por pouco não deixo tudo que estava carregando cair. Era uma jovem aprendiz da livraria que aparentava ter a minha idade. Simpatizei logo que vi pela primeira vez. Ela aparentava ser bem desastrada e, porém bem criativa, pois mesmo não sendo permitido ela conseguiu customizar seu uniforme discretamente. Parecia ser bem otimista e de bem com a vida e com certeza era de conversar muito, pois logo foi me pedindo mil desculpas e se apresentando de uma maneira bem estranha.
-Ai, desculpa mesmo. Eu não vi você. Não que você seja invisível, mas eu estava distraída. Você deve estar pensando o contrário né?Deve estar me achando bem distraída e uma sem educação. Nem me apresentei. Eu sou Júlia, mas pode me chamar de Juju, Juli, July, Ju ou da forma que preferir, afinal dizem que o cliente tem sempre razão por aqui apesar de discordar um pouco dessa frase porque em algumas situações o cliente é o maluco que quer acabar com a vida do vendedor.Mas com certeza não quer me ouvir falar sobre isso então voltando a minha apresentação nome pequeno é assim,vão inventando um tanto de apelidos e quando você vê tem um nome diferente para cada lugar que vai. Ta vendo, já estou falando demais, que deselegante da minha parte. E você como se chama? Júlia disse isso de forma tão rápida que mal deu para entender tudo que ela dizia.
- Me chamo Sophia.
A garota deve ter ficado super decepcionada com minha curta resposta, mas aquele dia mesmo com meu humor tendo melhorado não estava com a mínima vontade de conversar. Mas ela não se chateou com isso e continuou conversando comigo dizendo que nunca tinha me visto por ali, perguntou um pouco sobre quem eu era, o que buscava ali e que ela estaria disposta a ajudar em tudo que fosse do seu alcance. Disse que já tinha encontrado tudo o que precisava, mas agradeci sua dedicação. Júlia também se simpatizou comigo e me convidou para voltar sempre mesmo que não fosse comprar nada ela poderia me mostrar os lançamentos e ainda aproveitar para bater um papo. Ela estava querendo ser minha amiga e não posso negar que eu gostei bastante dela. Paguei minhas compras e despedi dela dizendo que voltaria quando desse.
Chegando em casa quando ia começar a customizar meu novo caderno vi que no meu celular tinha mais uma mensagem de Gustavo que dizia que quanto mais o ignorasse mais ele lembraria de mim e que havia conversando com Marcelo sobre mim.A mensagem terminava assim e fiquei super curiosa querendo descobrir o que os dois haviam conversado.Mas se eu respondesse iria dar oportunidade de aproximação de Gustavo comigo e se ignorasse presumi que todos os dias chegariam mensagens dele para me deixar curiosa no meu celular.Dessa vez não apaguei a mensagem de Gustavo.Resolvi subir para meu quarto e começar a customização do meu novo caderno pois isso me tranqüilizaria e dessa forma pensaria melhor no melhor modo de agir nessa situação.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 6

Domingo foi um dia tranquilo. Nada demais aconteceu, quer dizer nada que eu possa considerar fora do controle. Hoje quando acordei minha irmã veio tentar conversar comigo de novo sobre assuntos que não a interessa realmente. Dessa vez foi sobre música. Nosso estilo musical sempre foi muito diferente e a cada hora que passa vejo ela se transformando em algo que nunca quis ser, alguém como eu. A única coisa que continua igual é a obsessão pela própria imagem, o espelho, maquiagem e por fotografias principalmente dela mesma. Ontem Letícia tirou tantas fotos na festa que aposto que nem sequer os fotógrafos contratados do evento conseguiram superar. Essa mudança de atitude dela é por causa de Marcelo. Ela sente a necessidade de conquistar garotos que acaba de conhecer e depois os descarta, mas agora estou começando a pensar que é diferente. Ela realmente está gostando dele porque está até fingindo e se comportando como alguém que não é. Só não consigo entender como eu posso ser a modelo para sua nova imagem e como isso pode agradar tanto a Marcelo. Não é que eu me importe, mas se ele gosta tanto da personalidade que minha irmã aparenta mais cedo ou mais tarde ele vai reconhecer que não é apaixonado por ela e sim por mim o que seria bem estranho porque como ele concordou há dias atrás com Letícia mesmo que com gargalhadas, eu sou a garota mais ridícula e sem atrativos que ele conhece. Caso isso acontecesse Marcelo iria perceber que é apaixonado pela minha personalidade, mas pela aparência da minha irmã e não sei como essa situação poderia terminar, mas de modo bom que não seria. Viajei nesses pensamentos e comecei a admitir para mim mesma que nunca poderia ter sido tão paranóica. Isso nunca aconteceria. Deve ser porque chegamos muito tarde ontem e acordei muito cedo hoje ou meus pensamentos podem estar confusos assim por causa da semana agitada que tive. Em sete dias minha vida se transformou completamente, mudei de cidade, conheci outras pessoas, estou enfrentando a mudança repentina de minha irmã, um garoto me chamou para dançar e demonstrou interesse por mim e ainda é o melhor amigo do namorado da minha irmã que é um garoto completamente misterioso que consegue ser extremamente agradável, com gostos tão parecidos dos meus e ao mesmo tempo tão detestável que acredita que minha irmã possui um jeito de ser que não é propriamente dela. O pior de tudo é que ainda meu caderno de anotações desapareceu. Já desisti de procurar e de criar suposições sobre o que pode ter acontecido. Já desconfiei de tudo e de todos, da minha mãe, do meu pai, de Luís e principalmente de Letícia e algo me diz que o sumiço tem haver com ela, seu comportamento estranho a entrega. Posso até não ser inteligente e tirar notas ruins em matemática, mas não sou tão ingênua assim. Para falar a verdade desde pequena sempre gostei de brincar de detetive e assistir aos desenhos em que os personagens desvendam dos casos mais irrelevantes aos mais bizarros. Decidi que começaria a investigando aos poucos para que ela não desconfiasse de nada e como ela está tentando essa maior proximidade comigo seria mais fácil. Eu só precisaria responder com mais clareza e fingir que estou acreditando mesmo na história de que ela está agindo assim porque vai ser bom para o seu futuro na carreira e aos poucos fazer com que indiretamente ela me revelasse algo que a comprometesse e me ajudasse a descobrir se realmente ela está envolvida no desaparecimento do caderno. Depois de tanto pensar e supor sobre os acontecimentos atuais percebi que realmente pudesse estar ficando paranóica e até um pouco dissimulada. Como estava quase na hora do almoço resolvi esquecer um pouco toda essa maluquice e já que não tenho mais meu velho caderno comigo por enquanto resolvi reformar o antigo que estava sendo usado como rascunho para que eu pudesse desabafar comigo principalmente nessas horas em que o turbilhão de sentimentos tomam conta de mim. Não achei nenhum material de customização interessante para o caderno, queria algo bem original. Nunca gostei dessas capas que já vem prontas e que não da para mudar nada. Gosto é de criar, reinventar, ter algo único que eu mesma fiz. Como não encontrei nada resolvi reescrever a mensagem que havia escrito na noite anterior. Quando peguei meu celular me assustei quando vi que eu tinha uma nova mensagem. Era de Gustavo me desejando um bom dia e dizendo que queria muito me encontrar para quem sabe eu não tirar a má impressão que ele mesmo notou que eu tive dele na festa. Como ele havia conseguido meu número? Nem se estivesse mais fora de mim passaria para ele. Logo percebi que com certeza seria Letícia que houvera passado meu número para Gustavo para me irritar um pouco e para mostrar para Marcelo que realmente é uma garota apaixonada que quer ver todos se amando e felizes, ainda mais que se trata do melhor amigo do seu namorado. Não respondi a mensagem, apenas ignorei e abri a pasta de rascunhos onde estava o trecho que queria escrever. Acabei criando um texto sobre tudo que está acontecendo desde que me mudei para cá. Se tudo continuar assim terei assunto até para escrever um livro, pois foi um dos maiores que já escrevi e nem se passou tanto tempo assim. Marcelo, sua mãe e Clara vieram almoçar aqui hoje. Sua mãe Patrícia era até simpática, mas logo notei que ela não dava muita atenção a Marcelo. Quem se importa com ele realmente era Clara que o trata com um carinho tão grande que chega a ser emocionante parar um pouco e reparar no amor que ela tem por Marcelo e ele por ela. Depois do almoço Clara me convidou para passar o resto do dia em sua casa, pois seria bom botar a conversa em dia comigo. Saí bastante irritada quando percebi que a rede em que havia previsto que seria o meu canto preferido para ficar sozinha e ter minhas ideias teria se transformado no “canto romântico” do casal recém formado.
Nem vi o tempo passar na casa de Clara. Cada vez vejo que ela tem mais haver comigo, o jeito de falar, o modo de que enxerga a vida é muito parecido comigo. A única coisa que me incomoda nela é a insistência para que eu me aproxime do seu neto. Como estava com tempo dessa vez expliquei tudo que já havia acontecido, a forma em que o garoto me tratava e detalhes sobre a tentativa frustrada de aproximação do dia em que nos conhecemos. Clara me pediu um voto de confiança e disse que ele não agiu daquela forma por mal, pois desde que seus pais se separaram ele se transformou em uma pessoa mais fechada e agressiva, mas que antes ele era um garoto sonhador, simpático e que gostava bastante de desenhar e agradar as pessoas. Me mostrou algum dos desenhos que o neto fizera anos atrás e me impressionei com o seu talento.Mesmo assim disse a ela que isso não justificava o modo em que ele trata as pessoas,aliás é estranho como trata Letícia e ela tão bem e as outras pessoas com tanta indiferença,até mesmo seu melhor amigo.A senhora disse que essa história é bem complicada de entender e que não me contaria muito sobre o assunto,pois quem deveria me contar seria seu próprio neto Marcelo,ou seja, se depender disso nunca vou conseguir compreender isso totalmente.Quando estava indo embora ela deixou escapar que acha muito estranho o namoro do neto com minha irmã e confessou que imaginou que as coisas justamente ao contrário e que a uma hora dessas quem deveria estar na rede com Marcelo deveria ser eu. Fui bem sincera e disse que no meu modo de ver isso nunca seria possível, pois por mais que tenhamos algumas coisas em comum nós dois somos bem diferentes e que não seria apenas porque ela se simpatizava comigo que eu daria certo com seu neto. Clara se despediu de mim e disse que com o tempo eu entenderia o porquê ela gostaria que Marcelo e eu ficássemos juntos e completou dizendo que mesmo as coisas não tendo saído da forma que ela havia previsto ela podia sentir que muita coisa estaria para acontecer. Clara era tão sensitiva quanto eu e fiquei até apreensiva ao escutar isso. Queria muito continuar aquela conversa, mas precisava ir embora, pois já estava tarde. Disse que voltaria outro dia para continuarmos o assunto, cheguei em casa e assisti há um filme de comédia para aliviar um pouco toda a tensão que estava sentindo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 5


Finalmente chegou o final de semana, quer dizer infelizmente. Quando cheguei aqui estava com a impressão de que de certa forma esse lugar mudaria minha vida, mas pensei que fosse positivamente e não desse jeito. Pensei que não seria possível, mas Letícia está cada vez mais insuportável e até mais metida, pois sua nova agência gostou tanto dela que estão a tratando como uma estrela e a festa de hoje vai ser praticamente de boas vindas para ela. Ainda serei obrigada a comparecer, aliás, toda minha família e para minha “felicidade” ser maior o chato do Marcelo também vai e dessa vez não vai estar acompanhado por Clara o que vai fazer a convivência entre nós ser bem mais complicada. Letícia e ele estão praticamente namorando, se falam o tempo todo e estranhamente com ela ele é o posto do que é com todos e principalmente comigo. Com ela ele é um garoto tranqüilo, sensível e engraçado, só não consigo entender como o comportamento dele é assim com ela. Minha irmã pode até conseguir manipular as pessoas com sua simpatia forçada, mas em toda minha vida nunca vi dessa maneira. E falando em comportamento estranho me assustei ontem à noite quando Letícia se dirigiu ao meu quarto para perguntar sobre autores de livro que eu gostava, o que a escrita significava para mim e essas coisas que ela nunca teve o menor interesse. Ela até perguntou se eu tinha escrito alguma coisa nova e se eu não poderia mostrá-la. Obviamente não contei para ela dos dois poemas que escrevi no caderno de rascunho e nem respondi com muito interesse as suas perguntas. Quando ela estava saindo eu disse a ela que achava estranha a atitude dela e que sabia que de alguma forma ela estava tramando algo contra mim. Me disse que eu sou muito cismada e que na verdade ela só está querendo se tornar uma pessoa mais culta,conhecer mais do mundo literário porque isso seria importante até em sua carreira.A garota disse isso num tom tão calmo e educado que me fez logo suspeitar que houvesse mesmo algo errado e que ela poderia ser a responsável pelo desaparecimento do meu caderno de anotações. Resolvi não tocar no assunto com ela porque mesmo se ela tivesse algo haver com isso não seria tão burra a ponto de me contar. Resolvi investigar aos poucos, ficar mais próxima a ela e até respondi mais algumas perguntas sobre literatura que ela me pedira mais tarde naquele sábado. A noite chegou e não estava com nenhuma vontade de ir a tal festa. Esses eventos de agência são sempre bem cansativos, pessoas falando sobre tendências, fofocando sobre a roupa de alguém, garotas paquerando os modelos do desfile e vice versa.
Minha mãe fez questão de que eu fosse com o vestido novo que ela havia me dado no natal, mas não gostei nem um pouco do vestido. Ele combina mais com Letícia. Se não tivesse sido obrigada iria de jeans, tênis e camiseta e para falar a verdade eu nem compareceria a essa festa. A campainha tocou e Luís atendeu. Era Marcelo que para mim estava acompanhada por Clara que não iria com a gente, mas quis ir lá me visitar. Cada dia que passa ficamos mais próximas. Ela me disse que estranhou a maneira em que seu neto e minha irmã ficaram tão próximos, mas continua com a ideia fixa de que eu e Marcelo vamos nos dar bem. Nem deu tempo de dizer a ela tudo o que eu realmente pensava porque meu pai disse para me despedir e entrar logo no carro porque se não chegaríamos atrasados. Me senti totalmente sem ambiente ali dentro.Meu pai dirigia rapidamente,minha mãe falava no celular com um cliente novo e Marcelo e Letícia conversavam insuportavelmente perto de mim.Tirando a nossa conversa da parte da tarde nunca a vi conversar tanta coisa que não tinha nada haver com ela.Não prestei muita atenção na conversa porque estava ouvindo música bem alta nos fones de ouvido mas escutei em um momento sobre alguns autores que havia mencionado para ela.Logo percebi que ela só estava agindo daquela forma para conquistar Marcelo e que mesmo sendo um garoto totalmente impossível de conviver tinha paixão até por alguns mesmo escritores que eu.Quem diria que um garoto feito ele pudesse ter alguma noção sobre isso mas pelo menos alguma coisa de positivo ele tinha em sua personalidade.Encarei o garoto rapidamente quando ele estava distraído e pude notar olhando dentro dos seus olhos que ele guardava algum segredo e sofria de uma angústia forte que fiquei até com curiosidade de descobrir por um instante mas quando ele me encarou com a mesma expressão que fazia sempre com todos exceto com Letícia e Clara desisti totalmente da ideia,ri de mim mesma e vi que seria a maior perda de tempo.Naquele momento senti mais falta ainda do meu caderno desaparecido e senti uma necessidade enorme de escrever algo sobre como as pessoas conseguem esconder quem são mas não conseguem omitir o que sentem com o olhar.Não levei o caderno de rascunhos,nem caneta então peguei meu celular e escrevi uma mensagem de rascunho ali mesmo.Em seguida aumentei mais o volume da música e me desliguei totalmente daquela família que nunca me encaixei e até de mim mesma até chegarmos em nosso destino.
Chegamos à festa e admito que nunca havia ido a um evento tão bem estruturado assim. Havia muita gente, boa comida, a música era animada e as pessoas mais humildes e educadas do que a da agência anterior de Letícia. Meus pais desapareceram ao meio daquela multidão e em seguida Letícia convidou Marcelo para ir com ela cumprimentar os organizadores e donos da agência e eu fiquei ali sem saber o que fazer quando de repente fui surpreendida por um garoto que me cumprimentou e me convidou para dançar. Recusei apesar de nunca alguém ter me convidado para dançar antes. Não me simpatizei com o garoto, ele parecia ser do tipo que sai com qualquer garota para depois contar aos amigos. Mais tarde descobri que o garoto que havia me chamado para dançar anteriormente era o melhor amigo de Marcelo e que estava naquele evento porque tinha uma prima que era modelo da agência. Se chamava Gustavo e para minha surpresa tentou de todas as formas possíveis se aproximar de mim.Minha irmã,claro aproveitou para jogar indiretas em mim dizendo para não perder a chance de finalmente ficar com alguém e que ficaria super contente de nos ver juntos.Parecia até que ela teria combinado com o garoto para me fazer passar por aquela situação.Vindo dessas pessoas sempre me desconfio de tudo.Mas o mais estranho era ver que até seu melhor amigo Marcelo tratava com indiferença.Conversava mais,fazia brincadeiras com ele mas não tinham certa proximidade.Quando Marcelo e Letícia ficaram sem assunto ele lembrou de algo e ia pedir desculpas por ter esquecido de entregar a ela alguma coisa que não pude descobrir o que era porque ele não completou a frase porque foi surpreendido por um beijo demorado de Letícia.Percebi que estava sobrando ali e resolvi tentar achar meus pais para ver se a gente não poderia ir embora logo pois já estava ficando tarde e não estava me sentindo muito bem.Gustavo mesmo sem ser convidado por mim me seguiu e disse que não desistiria de mim.Achei a situação tão ridícula,nunca poderia imaginar que naquela festa um garoto iria se “interessar” por mim ainda mais sendo o melhor amigo de Marcelo. Claro que não acreditei nem um pouco nele e para dizer a verdade o garoto não me atraía nem um pouco. Aliás, nenhum garoto, pois não acredito nessa história de amor, acho que isso não passa de atração que as pessoas sentem por outras sempre com algum interesse físico, financeiro, ou seja, qual for o motivo. Havia uma época em que eu acreditava nessas baboseiras, mas depois de algumas coisas que enfrentei e por crescer junto a Letícia vi que isso era mesmo uma ilusão. Dez minutos depois encontrei Luís e em seguida meus pais e fomos embora para casa. Cheguei completamente exausta e logo que deitei não consegui pensar em nada que havia acontecido, dormi rapidamente.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 4

Quando estávamos quase acabando de arrumar a cozinha Clara disse que iria gostar muito que eu me aproximasse de Marcelo. Fui sincera com ela e confessei que não gostei nem um pouco do garoto e que para mim o jeito arrogante não era apenas a primeira impressão que ele passa e que ele parecia ser bem perturbado e que percebi também que ele não havia gostado de mim. Clara disse que eu estava sendo pessimista e pediu para que eu desse uma segunda chance ao Marcelo e sugeriu que eu fosse lá em cima e tentar me enturmar com eles. Aquela senhora me pediu com tanta simpatia que eu não consegui negar seu pedido, a conheço há pouco tempo, mas ela já se tornou especial para mim. Para falar a verdade me identifico mais com ela do que com minha própria família. Sinto a vontade de conversar com ela e falar tudo que penso sem o medo de ser reprimida ou censurada por algum comentário inútil que sempre faço. Disse a ela que só iria acabar de organizar as coisas por ali e que depois tentaria uma aproximação com Marcelo e Letícia lá em cima.
                                                  ***

-Então Letícia vou ser bem direto com você. Não estou nem um pouco interessado em ver mais dessas porcarias de fotos de biquíni ou sei lá de que mais jeito porque para mim você não passa de uma oferecida. Só estava sendo legal e aceitei vir aqui com você porque minha avó me pediu que visitasse essa casa. A minha avó é a única pessoa que tem importância para mim no mundo. A única que não me abandonou em nenhum momento, sempre se preocupou comigo e nunca me magoou. Devo respeito a ela e sempre faço o que ela me pede, mas agora que estamos só você e eu não pense que seremos amigos ou algo a mais como sei que você está pretendendo.Disse Marcelo em tom áspero e nenhum pouco amigável
- Acontece Marcelo que sei bem qual é a sua. Você está sendo agressivo assim porque notou logo que me viu que se sente atraído por mim e quer me desafiar. Letícia disse em tom baixo e calmo
- Você é uma garota transtornada mesmo e bem fora da realidade. Aceite o fato que não estou afim de você e não é só porque você é uma modelo e se faz de simpática que pode ter quem quiser a hora que quiser. Completou Marcelo
- Chega, pra mim é demais. Você não sabe o que está dizendo, deve ser o cansaço da viagem. Só falta dizer daqui a pouco que tem interesse na Sophia.
-Sabe Letícia a única certeza que tenho na vida é que jamais me apaixonaria por uma garota que nem a Sophia para falar a verdade acho que nunca conheci garota mais sem graça que nem ela que não tem nenhum atrativo sequer.Ela parece ser mais difícil de conviver que você.Disse Marcelo no mesmo tom de sempre.
- Em alguma coisa sabia que iríamos concordar. E já que você não quer magoar sua pobre avó aguarde um pouco que vou ali na cozinha e já volto. Disse Letícia que ao invés de se dirigir a cozinha foi ao banheiro retocar a maquiagem para tentar impressionar Marcelo. O jeito agressivo de quem não quer nada com a vida e a forma que desprezou Letícia fez com que seu objetivo fosse conquistar aquele garoto custe o que custar. A garota não aceitava perder e muito menos rejeição ainda mais de um garoto como Marcelo.
Marcelo sempre adorou mexer nas coisas que não lhe dizia respeito e vasculhando fotos, desenhos e mais fotos de Letícia achou entre eles um velho caderno com uma capa preta totalmente artesanal com vários recortes de revistas de artistas e frases. O caderno chamou a atenção do garoto que não hesitou em ler algumas páginas para descobrir o que estava escrito. Depois de ler alguns poemas, trechos e confissões escritas no caderno Marcelo não pode conter a emoção. Era como se o garoto arrogante desse lugar a um outro completamente diferente:sensível,romântico,simpático o oposto do que demonstrava a todos.Letícia voltou ao quarto depois de ter feito uma super produção digna de algum evento produzido por sua mãe Ruth e se surpreendeu ao ver o garoto emocionado lendo o caderno de Sophia.
- Se soubesse que iria vasculhar minhas coisas não teria permitido ficar a sós por aqui. Foi uma falha minha, pois logo se vê o tamanho da sua falta de educação. E a propósito esse caderninho de quinta não é... Mas Letícia foi interrompida pela fala desesperada do garoto que havia perdido totalmente o jeito insensível.
-Não sabia que você escrevia tão bem e era tão criativa. Devo até lhe pedir desculpas, nunca vi nada parecido com isso aqui. É uma verdadeira obra de arte. Você conseguiu até me fazer emocionar com essas anotações, algo que nunca aconteceu comigo antes. Olhando agora você nem parece tão difícil de conviver assim. Faz muito tempo que escreve assim? Perguntou Marcelo em um tom doce inimaginável para ele.
Letícia percebendo toda a situação e ao ver a mudança de humor de Marcelo não pensou duas vezes ao dizer que o caderno era mesmo dela e que escrever sempre fez parte da sua vida. A garota sem pensar duas vezes ofereceu emprestar ao garoto o caderno da irmã e como condição ele deveria acompanhar na festa que sua nova agência estaria promovendo no próximo final de semana. O garoto guardou o caderno em sua mochila e Letícia percebeu que estava prestes a conseguir o que desejava.
                                               ***

Obedecendo ao pedido de Clara resolvi ir me “enturmar” com Letícia e Marcelo.Mas como era de se imaginar não fui bem recebida por eles.Fiquei totalmente surpreendida ao ver como os dois estavam conversando como se já se conhecessem há muito tempo e como Marcelo estava se comportando como um garoto gentil e bom de conversa.Foi só eu entrar realmente no quarto que toda a máscara de Marcelo caiu e ele voltou a ser o mesmo garoto que eu havia conhecido quando abri a porta da sala.Letícia implicante como sempre resolveu me atingir .
- Sophia eu e Marcelo estávamos tendo uma conversa tão agradável e foi só você chegar para toda a calma se quebrar. E como estávamos falando anteriormente Marcelo ela é a garota mais sem graça e sem atrativos que eu conheço, Nem parece ser minha irmã. Disse ela me encarando sem alguma piedade. A sua ofensa a mim foi completada por uma gargalhada de Marcelo.
Me arrependi amargamente de ter escutado Clara e pensado que as coisas entre nós poderia melhorar um pouco.Disse que não ligava nem um pouco para que uma patricinha sem cérebro e um desequilibrado revoltado pensavam a meu respeito e fui para meu quarto procurar o meu caderno como havia imaginado antes e desabafar um pouco com as palavras.Antigamente realmente não ligava para o que minha irmã e os outros pensavam de mim mas agora inexplicavelmente era diferente.De alguma forma aquilo tudo me atingia e eu nem conseguia explicar para mim mesma o porque.Mas depois de vasculhar meu quarto todo não encontrei meu caderno e fiquei mais preocupada ainda pensando que talvez nunca mais colocasse minhas mãos nele pois quem sabe minha mãe não poderia ter o colocado no lixo por engano e este estaria agora nas mãos de qualquer pessoa no mundo.Sorte que nunca coloquei meu nome nele pois na minha opinião os segredos que guardo de mim mesma não precisa o conter,no máximo inventava pseudônimos mas Sophia nunca mencionei.Depois da minha tentativa frustrada de busca peguei o caderno antigo que havia escrito na noite anterior e escrevi um texto tão angustiante que nunca pensei escrever um dia.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 3

Não acordei tão animada assim. Também quando cheguei em casa ontem estava uma verdadeira atmosfera de confusão.Meus pais e Luís discutindo por causa de dinheiro,Letícia como sempre jogada no sofá falando no celular provavelmente com algum rapaz que conheceu na nova agência.Ninguém sequer me cumprimentou e perguntou como foi meu dia exceto por meu pai que deu um sorriso forçado pra mim quando passei perto dele para subir para meu quarto.Era mais ou menos 21:30 da noite e como estava sem sono nenhum resolvi arrumar as coisas que não estavam ajeitadas desde a mudança e resolvi escrever um pouco antes de dormir mas não encontrei meu caderno de anotações em lugar nenhum.Com certeza deveria ser mais uma tentativa de implicância de Letícia comigo ou o Luís tentando descobrir algum podre meu para contar a meus pais.Mas não estava com a mínima vontade de voltar a sala e iniciar uma discussão sobre o assunto,por isso escrevi um poema na folha de um caderno velho que encontrei entre as minhas coisas e decidi que procuraria meu caderno de anotações na manhã seguinte.Confesso que fiquei um pouco preocupada de alguém o ler porque ele transcreve toda minha vida,sonhos,angústias,histórias,enfim tudo que escrevo embora ele nem contenha meu nome.Ninguém nunca teve interesse ao menos em chegar perto já que achavam que era um modo idiota que arranjei para pedir um pouco de atenção e tentar me destacar.Já está na hora de eu comprar um novo,ele está bem danificado com folhas e mais folhas anexas,quase não há espaço para escrever nele mas não consigo me desapegar fácil ainda mais de algo que me acompanha a tanto tempo e é uma parte de mim.
Levantei bem cedo com minha mãe me chamando. Ela quis que eu fosse com ela e Luís fazer compras no supermercado. Na verdade ela o chamou porque ele é bom com essa parte de finança e eu porque de certa formo consigo controlar os seus gastos desnecessários. Saímos tão depressa que eu nem lembrei que deveria procurar meu caderno pela casa. Meu pai continuara dormindo aproveitando sua semana livre do trabalho e Letícia que funciona ainda menos de manhã também ficou dormindo aproveitando que estávamos de férias e não teria nenhum compromisso aquele dia.
Quando saímos de casa e nos dirigíamos para o carro fomos surpreendidos por dona Clara que cumprimentou a todos com a serenidade de sempre e se dirigiu a mim com um doce sorriso.
-Tenha um bom dia Sophia, meu neto que quero que você conheça já deve estar chegando – disse a simpática senhora.
Não pensei que ela fosse fazer tanta questão que eu conhecesse o seu neto, mas deduzi que acabaria conhecendo o garoto mais cedo ou mais tarde. Dona Ruth apressada como sempre se despediu de Clara e disse para eu e Luís entrarmos no carro porque ela não gostaria de ficar presa no trânsito. Acabou que minha mãe e meu irmão voltaram para casa sem mim que acabei me encantando pela livraria próxima ao supermercado. Eu disse a eles que voltaria mais tarde. Na verdade eu queria sim conhecer a livraria, mas na verdade o que eu queria era atrasar o momento em que eu conheceria o neto de Clara.
Voltei para casa por volta de 13h30min da tarde. Letícia estava novamente deitada no sofá como se não existisse amanhã. Perguntei a ela onde ela teria colocado o meu caderno, mas ela disse que não o tinha visto em lugar algum e que nem perderia o seu precioso tempo buscando algo que na opinião dela soava como um ridículo diário infantil. Na verdade não poderia ser mesmo ela porque isso minhas anotações estão completamente distantes dos seus interesses pessoais e ela não seria tão esperta a ponto de pensar em pegar o caderno e me chantagear com ele. Com certeza minha mãe ao arrumar as coisas deve ter o colocado em um lugar diferente e inimaginável como ela sempre faz. Ela “arruma” e muda as coisas de lugar e só encontramos algum objeto depois que nem lembramos que este existe. Torci para não ser esse o destino do meu caderno. Já ia lá pra cima revirar todos os cantos possíveis quando de repente a campainha tocou e presumi que era o tal neto de Clara. Quando abri a porta definitivamente me assustei com o que vi. Era um garoto nem alto nem baixo, não pude negar que era realmente bem bonito, tinha um estilo meio largado, parecia ser bem agressivo e não gostar muito de conversa. Me cumprimentou secamente e foi entrando sem ao menos ser convidado.Clara o acompanhava.Minha irmã que estava praticamente morta naquele sofá ressuscitou como num passe de mágica e já foi logo dar as boas vindas ao desconhecido com a máscara de pessoa doce e simpática.Acho que ao invés de modelo ela deveria ser atriz.
-Olá! Não repare o mau jeito é que estou muito cansada, chegamos há pouco tempo e arrumei a casa praticamente sozinha. Resolvi tirar um tempinho para mim e descansar minha beleza. Sou Letícia e você quem é? Disse ela com a simpatia forçada, porém convincente.
- Marcelo. Disse de modo arrogante.
Clara percebendo a indiferença do neto deu a desculpa de que o garoto estava cansado, mas que estava ansioso para nos visitar. Sinceramente não acreditei nem um pouco nisso
-Essa é Sophia, a garota que eu falei que você iria gostar. Aposto que serão muito amigos. E a que já se apresentou é a irmã dela que acredito que você também irá gostar – disse Clara
Marcelo me olhou com uma cara de desprezo que traduzia que ele não estava nem um pouco interessado na minha proximidade. Retribui o olhar.
Meus pais chegaram à sala e os convidou para almoçar. Letícia não se incomodando com a maneira que o garoto a havia tratado de início, logo se convidou para mostrar a ele onde ficava a cozinha. Minha irmã sempre foi assim, não pode ver algum garoto novo que já quer logo se insinuar. Apesar de tudo parece que Marcelo havia gostado dela, pois aposto que se fosse eu que tivesse me oferecido a mostrar onde fica a cozinha certamente ele teria dispensado.
O almoço correu bem, meus pais como sempre elogiando meus irmãos para Clara e Marcelo que respondia a maioria das perguntas acenando com sim ou não. O rapaz não era de falar muito, mas fiquei sabendo de metade da sua vida através de sua avó sempre que olhava fixamente para mim quando falava. Como ela já havia me contado antes ele era filho único, tinha grande talento para desenhar e era fascinado por fotografias. Morava ali há quatro anos com sua mãe desde que seus pais se separaram. Cursaria o terceiro ano na mesma escola em que eu iria estudar quando acabassem as férias e provavelmente seria da sala da minha irmã que também se formaria esse ano. Segundo Clara o garoto era um pouco tímido e fechado para conhecer pessoas novas e que isso lhe dava a impressão de arrogante, mas que era apenas aparência. Disse também que ele tinha bastante amigos pela região e que seria perfeito se um dia saíssemos com eles.Para mim ele não passa apenas impressão de arrogância.Na minha opinião ele não passa de um mal educado revoltado. Letícia mal esperou a senhora completar a frase já aceitando o convite do passeio. Após a sobremesa o garoto disse à avó que precisava voltar para casa, pois queria descansar da viagem, mas foi interrompido por Letícia que disse que já que ele era fascinado por desenhos e fotografia deveria ver o amplo acervo de desenhos de moda que ela havia criado e todas as suas fotos modelando principalmente de biquíni. Sem jeito o garoto acabou aceitando a proposta de minha irmã, mas disse que não poderia demorar.
Os dois subiram para ver as tais fotos, Luís foi assistir um filme com meu pai e minha mãe e Clara se prontificou a me ajudar a lavar a louça do almoço enquanto falávamos sobres coisas do cotidiano. Na verdade a única coisa que eu queria naquele momento era encontrar meu caderno de anotações para que quando a noite chegasse pudesse transcrever o poema que havia feito em rascunho na noite anterior e assim dormir tranquilamente.
domingo, 25 de dezembro de 2011 0 comentários

Capítulo 2

No caminho para a pequena cidade em que irei morar não parei de pensar por um momento em como seria daqui para frente enquanto olhava as paisagens da janela do carro. Não desgrudei por um momento do meu caderno de anotações que desde pequena me acompanha. Ele contem toda minha história e iria continuar registrando meus dias ainda mais agora que fui deslocada do lugar em que eu já estava acostumada.Perto de mim estava também o meu mp3 com os fones conectados.Uma paixão que tenho além de escrever,é a música que da mesma forma consegue descrever os mais variados sentimentos.Adoro colocar a música bem alta e sair cantando por aí sem me preocupar com nada em volta mas geralmente faço isso quando consigo ficar um pouco sozinha já que meus irmãos vivem reclamando quando começo a cantar e nisso eles tem razão, pois canto muito mal e se eu mesma já acho isso deve ser uma tortura para eles escutarem já que não gostam muita da minha presença mesmo quando estou calada.
Foi uma viagem tranqüila, sem muito diálogo entre nós, mas ninguém podia esconder que o nervosismo junto com a ansiedade tomava conta do ambiente. Chegamos ao bairro novo perto do anoitecer e aos poucos avistei a minha nova moradia. Era uma casa de dois andares bem projetada, modéstia a parte a mais bonita da rua. Tinha um belo jardim e uma varanda grande com uma rede que desde que coloquei os olhos já sabia que seria meu local preferido para ficar sozinha comigo. A vizinhança parecia ser boa e bem unida, pois 10 minutos que havíamos nos instalado fomos surpreendidos pelo toque da campainha e por uma simpática senhora na porta nos dando as boas vindas. Fui dormir bem tarde já que tínhamos muitas coisas a arrumar devido a mudança, mas confesso que toda a minha insegurança e angústia de ter me mudado sumiu quando coloquei a cabeça no meu travesseiro e apreciei meu quarto novo que mesmo não tendo escolhido já que Letícia e Luís haviam pegado os maiores da casa era um bom cômodo, melhor até do que o meu antigo. De alguma forma eu podia sentir que não seria apenas uma mudança de cidade e de casa, antes de adormecer senti que aconteceria uma verdadeira mudança em minha vida.
Apesar de ter dormido tarde acordei bem cedo. Era um dia ensolarado ao contrário do anterior. Fui até a cozinha preparar meu café da manhã e para minha surpresa meus pais estavam sentados na mesa juntos com Luís e Letícia. Me surpreendi porque minha família nunca foi unida,é raro todo mundo estar em casa para sentar a mesa e dividir as refeições como estava acontecendo naquela manhã.Ainda mais em uma terça feira.Deve ser porque meu pai só vai trabalhar no novo escritório a partir de semana que vem e minha mãe que é produtora de eventos ainda não tinha clientes por ali.Até Luís estava se comportando mais humildemente e nem sequer fez alguma piadinha sobre minhas notas em matemática para me envergonhar perto dos meus pais e Letícia não estava se admirando no espelho e passando aquele maldito blush que a fazia parecer uma artista de circo que havia levado dois tapas bem dados em cada uma das maçãs do rosto.Foi um café da manhã bem agradável que eu nunca vivi com essas pessoas.O clima familiar só foi quebrado quando o celular de minha mãe tocou e ela se retirou da mesa para atender,em seguida do meu pai que decidiu terminar de montar os móveis na sala.Sobraram apenas eu e meus dois irmãos na cozinha que agora que meus pais não estavam por perto resolveram tentar me atingir com palavras.Todo mundo sabe que Luís sempre foi influenciado por Letícia apesar de ser mais velho e em breve começar a faculdade de Direito por aqui e como ela sempre implicou comigo ele também fazia o mesmo.
Quem sabe agora Sophia você não larga de ser essa garota sem vaidade e sem nenhum cuidado com você que só fica escrevendo ou olhando para o teto o dia inteiro e tenta ser alguém na vida que seja uma pessoa digna de ser membro dessa família em?– indagou Letícia
Realmente querida, siga o exemplo do seu irmão. Esse ano você entrará no ensino médio e já está na hora de você focar em alguma coisa que te dê futuro. E a sua irmã está certa quanto a sua falta de vaidade, as pessoas custam a acreditar que você é nossa irmã mais nova quando contamos e seria bom você arrumar um namorado para quem sabe não parar de ter esse olhar de pessoa mais solitária do mundo – completou Luís
Apenas me levantei e subi para o meu quarto porque apesar de ser uma pessoa que não abaixa a cabeça e aguenta esse tipo de desaforos e provocações não queria estragar meu primeiro dia naquela cidade com uma discussão que não me levaria a lugar nenhum. Sim, discutir com aqueles dois seria perda de tempo. Enquanto me retirava pude escutar as gargalhadas e comentários ofensivos que faziam sobre mim, mas decidi ignorar, já era acostumada com isso desde pequena. Talvez o mal seja que meus pais nunca se importavam com o que eles faziam apenas os elogiavam para os amigos. O senhor Afonso e a senhora Ruth nunca foram pais presentes, sempre se preocupavam mais com a carreira profissional do que com a vida em família. Quanto mais o tempo passava, mais ocupados eles foram ficando e como sou a mais nova não recebi sequer um pouco da atenção deles e como não me destaco em nada, o pouco de presença deles são meus irmãos que recebem. Não sou de me afetar com o que Letícia e Luís falam mas confesso que ao subir e me olhar no espelho senti um certo mal estar,era como se existisse um vazio dentro de mim que nada poderia preencher.Entrar no ensino médio,com certeza seria uma mudança em minha vida e quando eu menos imaginasse teria que escolher qual profissão seguir,o que é mais difícil para mim porque deveria ser uma profissão digamos “aceitável” para os meus pais.E em questão amorosa,nesses meus 15 anos sobre esse planeta vivi decepção atrás de decepção.Desde pequena a minha irmã já tinha os seus namoros infantis na escola e eu quando não estava escrevendo estava batendo nos meninos que riam de mim e me colocavam apelidos me chamando de feia.Quando virei adolescente isso não mudou.Não brigo mais com os garotos mas os apelidos quem recebe sou eu e toda atenção Letícia.Não que eu me importe realmente mas as vezes incomoda ter que ser sempre ofuscada pela beleza e simpatia da minha irmã.Lá fora ela interpreta o papel de uma garota doce,simpática,disposta a ajudar todos e querer sempre o bem apesar de eu saber que é tudo falsidade pois escuto as coisas horríveis que ela diz sobre seus “amigos”.Letícia sempre participa das melhores festas,já viajou várias vezes com sua agência de modelos e na maioria das vezes auxilia minha mãe na divulgação e produção de eventos que eu também vou apesar de não achar graça nenhuma.Não sei como será a vida dela agora já que essa cidade não possui sede da sua agencia e por isso a encaminhou por uma nova que provavelmente ela visitará depois do almoço.Aliás na parte da tarde,eu resolvi caminhar pela vizinhança para já ir me familiarizando quando de repente encontrei a simpática senhora que nos deu boas vindas ontem a noite.Conversei com ela por bastante tempo.Me disse que se chama Clara e que teve cinco filhos mas que só possui relação com uma filha pois os outros se esqueceram do significado de família preocupados com o trabalho.Me identifiquei muito com ela nessa questão, aliás, em tudo. Sempre tive facilidade de fazer amizade com pessoas mais velhas, mas com Clara senti uma estranha proximidade. Ela me disse que sua filha mais próxima mora na mesma rua que a gente desde que se separou do marido e que ela possui um único filho que deveria voltar amanhã da casa do pai e que seria interessante conhecê-lo. Eu concordei para não parecer mal-educada, mas não senti a mínima vontade de conhecer mais um garoto mimado e metido que com certeza não teria nada em comum comigo. Disse que o conheceria apenas para não render assunto,despedi de Clara pois já estava tarde e voltei para casa.
sábado, 24 de dezembro de 2011 1 comentários

Capítulo 1

O despertador tocou. Era uma manhã de segunda feira bem chuvosa por sinal e eu não estava nem um pouco interessada em “acordar para a realidade”. Eu havia entrado de férias na sexta-feira e quando cheguei em casa fui surpreendida com a notícia de que me mudaria de cidade pois meu pai havia recebido a tão sonhada promoção na empresa e que eu querendo ou não teria que me adaptar ao meu novo habitat.Por um lado seria bom mudar de casa,de ambiente e conhecer novas pessoas já que meu último ano por aqui não foi um dos melhores mas confesso que não sou uma pessoa otimista.Na verdade eu nunca me encaixei no padrão da minha família,sou a filha mais nova que não tem nenhum talento em especial,nem é inteligente ou bonita.Todo mundo que me conhece acha que eu só vejo o lado ruim das coisas ou que digo isso em busca de elogios,mas não é fácil conviver com uma irmã metida a besta 24 horas por dia que acha que está com o futuro garantido só porque é uma modelo em potencial e deixa todos os garotos otários da região babando por ela e um irmão que é nerd por completo,o orgulho da família.Meus pais adoram comentar dos dois para seus amigos,falando sobre seus feitos e de como se superam cada vez mais,já de mim a única coisa que já os ouvi comentando foi de como é decepcionante ter uma filha que pega recuperação em matemática sempre e que parece não estar nem aí pra nada.O que eles não sabem é que honestamente desconheço uma pessoa que se importe com tudo a sua volta como eu.Adoro escrever sobre tudo que acontece no mundo,transferir minhas emoções nas palavras apesar de dizerem que isso nunca vai me levar a lugar algum.Não ligo para o que pensam e nem escrevo pensando em ter um futuro brilhante como meus irmãos foram predestinados a ter.Eu apenas escrevo porque é a forma que me sinto melhor comigo mesma,é algo espontâneo em que eu posso ser quem sou sem me esconder.Quando escrevo nem vejo o tempo passar,pareço estar em outra época e nada consegue me incomodar exceto os berros da ignorante da Letícia e do convencido do Luís dizendo para pegar as malas e me dirigir para o carro.Recuperando os sentidos depois da gritaria dos meus irmãos,olho em volta e me despeço do quarto em que passei a maior parte do meu tempo e da casa que me acolheu nos meus momentos felizes,tristes,de agonia ou expectativa e desço as escadas em direção do desconhecido pensando alto:Quem diria Sophia que um dia você teria que começar uma vida longe daqui?!
Entrei no carro e parti para a estrada com minha família.



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Faça a diferença!

Em algumas situações da vida pensamos: Porque isso aconteceu justamente comigo?
Sou uma pessoa que não faz mal a ninguém, que procura sempre ajudar e deseja sempre o melhor, então porque enfrento uma situação tão difícil enquanto outras pessoas estão com a vida que eu desejava ter?
Muitas vezes na vida achamos que nossos problemas são os maiores e não acreditamos na nossa capacidade de resolvê-los. Achamos que tudo de ruim que acontece é injusto e que nós não merecemos. Mas da mesma forma em que existem dias ensolarados e chuvosos em que convivemos gostando ou não, há também obstáculos e dias ruins no caminho que mesmo não aceitando precisamos enfrentar. Aprender a superar os medos ou admitir que foi infeliz em alguma situação não é tarefa fácil mas é a ordem natural da vida em que todos um dia irão passar.Por isso antes de olhar para a sua vida e dizer que não poderia estar pior,olha a sua volta e veja que ao seu lado existe alguém que daria tudo pra estar no seu lugar,passando pelos “problemas” que você julga impossível de resolver ou até mesmo alguém que luta por algo mais complicado com muito mais coragem que você.Se ultimamente nada está dando o certo você tem o poder para dar a volta por cima,basta querer.Não importa quanto tempo demore,lentamente tudo vai para seu devido lugar e você percebe que não há mal que dure pra sempre desde que você faça a sua parte!
 
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