quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Capítulo 21

Aquele final de semana exaustivo e totalmente o oposto do que havia previsto finalmente tinha acabado. Não consegui dormir bem naquela noite, pois não podia acreditar em tudo que teria acontecido. Após os garotos irem embora o clima ficou bem pior entre minha família e eu. Meus pais estão apoiando bem mais Letícia e eu fiquei sendo mesmo a alterada que quer chamar atenção com uma história ridícula que não faz o maior sentido. A verdade é que essa história não faz o menos sentido. Meus próprios pais não me conhecem realmente, nunca notaram minha letra, o namorado da minha irmã é um estúpido que acredita nas mentiras dela e eu nunca em hipótese alguma posso provar que estou certa em algo. Já estava sentindo aquela necessidade de mudança tempos atrás, mas agora esse sentimento havia se tornado mais forte. Mesmo dizendo o que eu pensava as coisas continuavam iguais, ou melhor, elas pioravam e já que eu era tratada com indiferença talvez fosse à hora de buscar um novo estilo, ser indiferente. Peguei meu novo caderno e escrevi a respeito disso. Estava me sentindo presa nos meus pensamentos e atitudes e que se afinal ninguém acredita no que sou e não me dão a menor credibilidade talvez fosse mesmo à hora de tentar algo novo. Mas o que poderia fazer para demonstrar essa nova fase que estava se iniciando em minha vida?Estava contente da maneira que eu era, mas precisava mostrar a todos que eu também poderia me adequar ao que julgam ser atraente. Não deveria me importar com os comentários de Marcelo, mas saber que ele prefere acreditar na verdade fajuta da minha irmã só porque ela se enquadra nos padrões que a sociedade impõe de certa forma me afligiu e só não me chateou mais graças às palavras de Gustavo. Aquele elogio me pareceu sincero, mas infelizmente não são todas as pessoas que pensam como ele. Desde pequena cresci vendo Letícia ser mimada e sempre elogiada por causa de sua aparência e embora sempre digam que isso não é o que importa infelizmente no atual mundo superficial em que vivo importa sim. Escrevendo no novo caderno que representava essa nova Sophia percebi que precisava mesmo mudar algo em mim, como gosto de dizer, me aprimorar. Não que eu devesse seguir rigorosamente a ditadura da moda e me tornar um robô humano como minha irmã, mas precisava me enquadrar a esse padrão caso quisesse mostrar o outro lado e mudá-lo. Estava certo que mudaria algo em meu visual, a mudança não seria radical e aconteceria gradativamente, claro não atropelando minha personalidade e meu estilo de sempre. Falaria com Júlia que tem um visual que acho bem marcante para me ajudar com isso assim que o dia clareasse.
Acordei bem cedo e percebi que já havia uma mensagem de Gustavo em meu celular. Novamente, o garoto me elogiava, me perguntava se eu estava bem e que acima de tudo não deveria dar crédito ao que teria acontecido no almoço e muito menos aos comentários de Letícia, meus pais e Marcelo, inclusive os possíveis futuros. Já ia responder a mensagem agradecendo por estar se importando comigo quando sou surpreendida com outra dele mesmo me perguntando se ele não poderia ler o tal caderno que gerou toda a confusão. Apaguei o meu agradecimento imediatamente e disse que não concordava, pois isso era algo meu, que jamais alguém deveria o ter lido e que isso só havia acontecido graças à intromissão de Letícia e á curiosidade de Marcelo. Por falar em curiosidade não foi preciso ouvir, mas com certeza no dia em que Marcelo veio a minha casa pela primeira vez e subiu com Letícia para ver as supostas fotografias e desenhos ele encontrou o caderno, deve ter elogiado e Letícia se aproveitando disse que a pertencia para criar assunto e conseguir o que queria. Gustavo não ficou contente com minha resposta e me chamou para tomar um sorvete mais tarde, pois ele precisava muito conversar comigo e sentia que eu estava precisando ter essa conversa. E ele acertou, estava muito aflita, mais insegura que nunca, com a auto-estima bem baixa e tudo o que eu queria era desabafar com alguém como ele. É estranho, mas o comportamento atual dele havia apagado aquela imagem que eu tinha dele, claro que Gustavo tinha muitos defeitos que eu não gostava, mas ninguém é perfeito e muito menos eu poderia exigir algo dele. Não era bem como eu pensava, mas depois de muito tempo desde a minha primeira desilusão com o “amor” nunca havia sentido uma coisa tão intensa como estava sentido. Era meio perturbador, um pouco curioso e aquele sentimento e admiração por Gustavo parecia crescer a cada dia. A última vez que me senti assim apesar de não gostar de comentar me deixou uma espécie de cicatriz. Na época foi bem difícil de esquecer e acho que pode ter sido isso que me fez ter tanta desconfiança do garoto no início. Eu era bem mais nova quando tive meu primeiro amor não correspondido que hoje que estou mais madura prefiro chamar como amor platônico ou espécie de aprendizado já que não considero que aquilo tenha sido mesmo amor e sim uma descoberta do que eu poderia ser capaz de sentir por alguém algum dia. Não considerava que estava amando Gustavo, até porque amor vem com o tempo e é muito ridículo em poucos meses pessoas já acharem que amam alguém. Não sou contra quem pensa assim, mas acho que primeiro vem a atração, depois o gostar e querer bem a pessoa e só com o tempo a vontade de estar perto e de ficar próxima a pessoa mais o comprometimento e tolerância em aceitar tanto as qualidades e os defeitos faça o sentimento gostar se transformar de fato em amor.Para isso acontecer teria uma longa estrada a percorrer mas confesso que atração depois de tudo que acontecera estava sentindo por Gustavo.Ficar ali filosofando entre meus próximos pensamentos não me levaria a lugar nenhum e eu precisava era agir e me tornar “indiferente” como estava pensando.Peguei meu celular e respondi Gustavo concordando em o encontrar mais tarde para tomar um sorvete e conversar.Seria bom ouvir tudo o que ele pensa e também falar tudo que eu penso por mais desorganizado que meus pensamentos sobre ele e todas as outras coisas estejam.Tomei meu café-da-manhã sozinha.Meus pais haviam saído para trabalhar,Luís estava acertando os detalhes da faculdade naquela manhã e minha irmã tinha sessão de fotos na agência.Gostei de não ter encontrado ninguém em casa,pois talvez ocorresse algum confronto e isso atrasaria o compromisso que tinha acertado comigo.Saí para encontro de Júlia.Conversaríamos na sua hora de almoço,com certeza não daria tempo para explicar tudo,mas conseguiria contar da decisão que enfim teria tomado e sobre os últimos acontecimentos especialmente do almoço do domingo conturbado.

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