sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Capítulo 22

Cheguei na livraria e Júlia estava saindo para o almoço.Como sempre ela estava animada,falante e super curiosa para saber tudo que havia acontecido desde o início.
- Ainda bem que você chegou, estava quase morrendo aqui de tanta curiosidade em saber tudo o que aconteceu desde aquele último dia que a gente se viu. Como assim o nosso plano não deu certo, não tinha como dar algo errado.
- Eu também havia pensado nisso, mas havia esquecido que estávamos lindando com alguém como minha irmã. É claro que ela já previa alguma reação de minha parte e fez a cabeça de Marcelo contra mim dizendo que eu era manipuladora e que queria ter uma vida como a dela.
- Mas isso é um absurdo!Como aquele garoto estúpido pode acreditar nela ao invés de você. A sua letra prova tudo, não tinha o que discutir.
-Acontece que a letra que minha irmã treinou ficou idêntica a minha e com mais a conversinha dela ela pode fazer o garoto acreditar. E o pior que lá em casa não tem nem nossos cadernos antigos escolares e provavelmente ela deu um sumiço em todas as anotações que estavam com a letra dela.
- Essa história é surreal. Se você não estivesse me contando eu não acreditaria. Nunca ouvi falar em alguém que falsificasse a letra de outra pessoa a não ser para fazer assinaturas naqueles filmes de ação, mas isso é um nível psicopata muito grande. Mas seus pais sabem a sua letra Sophia, eles com certeza poderiam ter desmentido essa história.
- Você não conhece minha família Júlia. Eles nunca se importaram com a gente. Para eles somos como espécie de troféus que eles podem apresentar e eu não me pareço nem um pouco com isso. Eles são indiferentes comigo e por isso eu percebi que falar o que pensava nem iria adiantar muito, eu preciso mesmo é ficar “indiferente” para eles. Ontem eles apoiaram mais minha irmã, foi horrível todas aqueles acusações vindo para mim como se eu fosse a mentirosa obcecado dali.Eu não consigo entender onde Letícia pretende chegar com isso.Mas pelo menos descobri de fato que Marcelo leu mesmo o meu caderno que para todos os olhares é de minha irmã.Ainda bem que o Gustavo estava lá,ele me defendeu e disse que acreditava em mim.
- Uau! As coisas entre vocês estão ficando mesmo sérias. Me conta sobre o beijo ou melhor os beijos,os barracos,o pedido de namoro e tudo que você tiver que me contar sobre ele.
Contei toda a história detalhadamente para Júlia, acrescentando meus pensamentos e o que estava sentindo naquele momento. Disse que mais tarde me encontraria com Gustavo e faria uma espécie de desabafo com ele porque mesmo que eu não quisesse com tudo que havia acontecido, estava me sentindo mais próxima dele. Também queria dizer que não queria que a amizade entre ele e Marcelo ficassem abalada por minha causa. Na última vez que tentamos conversar a conversa nem aconteceu e seria bom se essa conversa acontecesse hoje. Júlia me aconselhou e eu me senti melhor, me deu ideias que eu nunca teria pensado sozinha. Ela concordou que eu deveria dar tempo ao tempo e que mais cedo ou mais tarde Marcelo iria cair em si e ver o erro que cometeu. Ela também me disse para procurar Dona Clara, pois ela parecia ser uma senhora muito resolvida e bastante experiente e poderia me ajudar a colocar meus pensamentos em ordem. Mas não era só para isso que eu havia encontrado Júlia naquele horário de almoço.
Contei sobre a necessidade que eu tinha de mudar um pouco visual, porque já que queria que toda aquela mudança em minha vida acontecesse eu deveria começar por mim e que continuar igual eu era não me ajudaria com o progresso nessa ideia.
- Você não precisa mudar nada para que te aceitem Sophia! Que absurdo. As pessoas vão te criticar de qualquer forma e você não pode mudar o que é só para agradá-las e se encaixar no grupo. Não deixarei você cometer essa loucura.
- Eu não estou mudando por ninguém Júlia. Estou mudando por mim,ou melhor, eu nem encaro isso como uma mudança e sim um amadurecimento pessoal.Há muito tempo venho percebido que preciso viver coisas novas,ter uma vida mais tranqüila, que não seja tão conturbada assim. Não quero fazer uma mudança radical, só quero que meu visual tenha um pouco da essência do que eu sou agora, de como me sinto nessa fase de descobertas, de confronto comigo mesma. Você nunca se sentiu assim Júlia?
- Confesso que sei muito bem o que você está sentindo. Porque isso já aconteceu comigo e é por isso que te aconselho a não continuar com esse jeito de pensar porque talvez as mudanças ocorram tão rápido que você nem perceba e quando perceber já vai ser tarde demais e estará irreconhecível.
- Como assim aconteceu com você? Te acho tão cheia de vida,animada, parece que nunca viveu nenhuma situação ruim.
- Agora eu também me considero assim, mas depois de muito tempo é que consegui ver quem eu era realmente. Passei por uma fase de insegurança e necessidade de mudança assim como você está passando. Anos atrás, eu era uma garota tímida, que tinha medo que as pessoas soubessem o que eu pensava,era calada demais, vivia num mundo imaginário que eu havia criado para me esconder do mundo. Uma vez um grupo daquelas garotas populares no qual eu não me encaixava me humilhou na frente de toda a escola para o menino que eu gostava e ele também fez piada de mim. Foi horrível e nesse instante eu decidi que não queria ser como eu era. Só que eu resolvi fazer uma mudança radical, comecei a andar com uma galera estranha, aprontar loucuras e praticamente cometi um roubo grave. Eu já não estava me reconhecendo, a minha família se virou contra mim, dizia que eu era um desgosto. Mesmo com tudo aquilo ainda sentia falta de quem eu era, sentia uma sensação de vazio. Até que em um dia a galera esquisita que eu andava caçou confusão em um bar e chamaram a policia para gente. Minha sorte foi que havia uma policial que viu que eu não era como eles e me aconselhou a mudar enquanto era tempo e me deu um livro que contava uma história de uma garota que não se aceitava e que por isso estava jogando a vida fora. Não gostava de ler, mas aquele livro foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado. Vi que tudo que eu havia feito não estava certo. Comecei a tentar enxergar o lado bom da vida e depois de algum tempo me tornei o que sou agora e trabalho aqui em meio aos livros que de certa forma me livraram do mundo da escuridão. Mas a “minha antiga eu” nunca mais consegui encontrar, sei que ela era insegura e tudo mais, mas eu sinto falta dela. Mesmo gostando da minha vida agora e sendo feliz não aconselho que faça isso Sophia, é muito perigoso. Agora você fala que quer mudar um pouco, mais tarde pode estar irreconhecível e talvez não tenha tanta sorte como eu tive.
- Nossa, eu não sei nem o que dizer. Não fazia ideia mesmo. É por isso que dizem que não se podem julgar as pessoas e nem o livro pela capa. Não podia imaginar que você teria vivido algo assim. Obrigada pelo conselho, mas eu preciso mesmo fazer essa pequena mudança e eu te prometo que serei a mesma Sophia de sempre, só que aberta para aprender coisas novas e que não vou me perder por um caminho em que eu não me reconhecerei Agora mais do que nunca minha amiga sei que você é a pessoa mais certa para me ajudar nisso, porque poderá me aconselhar quando perceber que eu possa estar agindo de alguma maneira errada. Concorda em me ajudar? Eu preciso muito disso!
- Está bem Sophia, eu te ajudo, mas já vou te avisando, tenha muito cuidado com isso e com esses seus pensamentos negativos sobre você. Amanhã é meu dia de folga, me encontra na livraria que ajudarei você com isso. Preciso voltar para o trabalho agora, até amanhã!
- E eu ainda preciso me encontrar com Gustavo e mais tarde como você disse verei Dona Clara. Amanhã te conto como foi. Até logo!
- Boa sorte Sophia e pense bem em tudo que eu te falei.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
;