sábado, 21 de janeiro de 2012

Capítulo 19

Como não havia saído de casa nos últimos dias, só me comuniquei com Júlia através do telefone depois que ela saía do trabalho na livraria para acertar os detalhes de como faria para mostrar minha letra para Marcelo. Estava mesmo disposta a fazer isso e mesmo que a verdade não fosse de fato essa isso aliviaria um pouco as dúvidas que passavam na minha cabeça que na verdade não era só essa. Desde o episódio do beijo e da briga mais o pedido de namoro inesperado de Gustavo fiquei pensando em como seria daqui para frente. Mesmo com a reprovação de meu pai sabia que aquilo ia continuar. Não sabia ao certo o que eu sentia por ele, mas enfrentar meu pai fez com que ele subisse no meu conceito e suas mensagens diárias me acalmando e dizendo que eu não podia ser uma pessoa melhor me deixa bem comigo mesmo sabendo que isso é uma daquelas mentiras que pessoas “apaixonadas” dizem para cativar quem estão afim. Eu ainda não acreditava muito no interesse de Gustavo por mim, mas acreditava bem mais do que antes. É legal saber que tem alguém que gosta de você ou que ao menos finge. Nunca foi assim comigo, sempre via isso acontecer com Letícia, vai ver é por isso que reajo assim. Depois que atendi a porta Marcelo beijou minha irmã e eles ficaram sentados no sofá assistindo TV enquanto o almoço não ficava pronto e
Eu estava mais apreensiva, pois o momento tão esperado de “Máscaras que caem” estava realmente chegando. Adorei esse título improvisado que Júlia deu a toda essa confusão. A máscara que mais queria ver cair era de Letícia naquela tarde. Fui no meu quarto desci com o caderno antigo e o novo e comecei a escrever nele algo referente ao que ia acontecer, como pessoas fingem ser o que não são para atrair atenção, enfim, algo que fosse útil para aquela ocasião. Sentei o mais perto que consegui de Marcelo e Letícia que logo já foi dizendo:
- Porque pegou o meu caderno? Ainda por cima está querendo imitá-lo. Não acho legal isso de sua parte Sophia. Por que não tenta criar algo seu, original ao invés de me copiar?
 Dei uma gargalhada muito grande. A minha vontade era de naquela hora mesmo desmascarar minha irmã, mas o combinado era em meio ao almoço de modo que Luís, Dona Ruth principalmente Senhor Afonso vissem. Estávamos almoçando quando de repente a campainha toca e me mandaram atender. Como sempre eu tenho que fazer as tarefas indesejadas pelas pessoas daquela casa e atender a porta quando era um momento inadequado e desanimante era tarefa minha. Não pude acreditar em quem era, ou melhor, porque não previ isso antes.
- Boa tarde Sophia! Senti tanto sua falta, você sabe que gosto de te surpreender e por isso nem avisei que viria.
Me lembrei de como aquele garoto era irritante e irônico e novamente ele caiu no meu conceito.
- O que você está fazendo aqui? Que eu saiba desde que você encarou meu pai com aquela proposta ridícula de namoro ao mesmo tempo me defendendo que fez meu pai te convidar a ir embora e só voltar quando fosse convidado te fizesse ficar longe daqui durante muito tempo.
- Já disse que gosto de te surpreender. Marcelo me avisou que viria almoçar aqui hoje, como a poeira já abaixou e você já saiu do seu castigo vim aqui me redimir com seu pai e deixar o clima mais agradável para nós no futuro.
Com tanta coisa que aconteceu já tinha até me esquecido que Gustavo era o melhor amigo de Marcelo. Até o final daquela tarde o conceito dele comigo já seria negativo. E em pensar que eu já estava quase o achando interessante.
- O que você está fazendo aqui? Não o convidei e pensei que não voltaria a me incomodar- Disse meu pai para Gustavo em um tom nada amigável.
- Me desculpe se te ofendi de alguma forma Senhor Afonso. Vim me redimir. Acho que começamos com o pé esquerdo. Marcelo disse que viria almoçar aqui e não resisti em vir.
Claro, porque além de ser insuportável, ele também era folgado e de quebra queria encher a barriga e fazer a festa de graça nas custas de arruinar meu plano. Deixei meu pai ali conversando com Gustavo na porta, corri para meu quarto e liguei para Júlia.
- Está tudo arruinado. Estava prestes a mostrar o que havia escrito para Marcelo e em seguida escrever algo para ele ver que Gustavo aparece do nada. Não sei mais o que faço.
- Mas essa notícia não podia ser melhor. Pensa Sophia, você estava em dúvida em que um dos dois leu o seu caderno. Agora ficou bem mais fácil de descobrir. Tenho vontade de ir até aí assistir isso tudo de camarote, mas sei que se aparecer aí seu pai vai me investigar, perguntar quem eu sou e vai atrapalhar mais ainda o andamento de tudo ainda mais que você deve estar super nervosa.
- Gostaria mesmo que você viesse até aqui, mas nesse momento acho que só iria piorar as coisas. Você sempre com essa sua animação e otimismo, vendo o lado bom de tudo. Estou nervosa mesmo. O que não faria sem você minha amiga?
Não pude demorar na ligação, pois se demorasse muito meu pai iria subir fazer o seu questionamento de sempre e eu iria ficar bem mais nervosa e seria mais difícil ter coragem para descobrir finalmente a história por trás do meu caderno. Aliás, que história maluca e improvável. Se não fosse comigo e alguém me contasse era certo de que não acreditaria e olha que penso mesmo que coisas estranhas acontecem. Quando voltei para a mesa Gustavo também estava sentado e ele parecia ter se dado bem com meu pai. Gostaria muito de saber o que ele teria inventado para fazer meu pai mudar de ideia sobre ele e até convidá-lo para almoçar. Levei uma bronca por ter saído da mesa e como presumia por pouco meu pai não iria ao meu quarto ver o que estava acontecendo.
- Largue esses cadernos Sophia. Está na hora do almoço. Lave as mãos antes que eu desista de te deixar almoçar conosco após aproveitar que a campainha tocou para ir para seu quarto.
Seria tão mais fácil se meus pais prestassem mais atenção em nós. Sim, em nós. Nesse ponto até com Luís e Letícia eles são desligados. Nunca notaram que eu sempre andei escrevendo nesse caderno desde pequena ou se notaram pensaram que era algo dividido entre eu e minha irmã já que consideram tão inútil. Se eles não vivessem tão ocupados com o trabalho e percebessem isso meu pai teria me dado razão na briga quando disse que o caderno era meu. Mas já que não era assim tinha que fazer o que me interessava e na mesma forma que disse tudo que pensava no dia da confusão comecei a dizer:
- Não vou largar meus cadernos. Pois tem algo que é preciso que saibam. Marcelo e Gustavo esse caderno nunca foi de Letícia. Não sei como aconteceu, mas sei que um de vocês o leu. Meu caderno ficou desaparecido por dias e minha irmã começou a agir com comportamento estranho desde disso, mesma época em que começou a namorar com Marcelo Não sei se já notaram, mas a minha letra não é igual à de Letícia, ou melhor, nem notaram porque se tivesse prestado atenção veriam a diferença. Minha intuição diz que foi você quem leu Marcelo e mesmo não gostando de você leia isso que acabei de escrever.
Mostrei o texto que escrevi que falava de pessoas que fingiam ser o que não são para ele. Estava super nervosa. Aquele enigma estava prestes a ser desvendado.
- Sophia não sei o que dizer, nem o que pensar de você, muito menos do que seja capaz. Já te achava perturbada, mas depois dessa vejo que você é muito mais que isso.
Quando Marcelo disse isso não consegui entender. Ele não parecia surpreso e por sinal parecia irritado com isso.
- Eu sabia que iria fazer isso. Sua irmã já havia me contado sobre sua obsessão em ser como ela. Tanto que até começou com esse novo caderno...
Eu o interrompi e como já não tinha mais nada a perder, arranquei uma folha e escrevi na sua frente tudo que eu realmente pensava dele, como achava que ele vivia numa bolha se escondendo por trauma ou algo que não sei ao certo o que é, mas fui surpreendida quando ele me interrompeu dizendo:
- Não posso acreditar que você conseguiu aprender a falsificar perfeitamente a letra da sua irmã e muito menos permitir que se refira a mim desse jeito,você nem me conhece. Isso não pode continuar assim.
Minha cara foi ao chão. Como assim? Eu falsificar a letra da minha irmã? Pensei em pegar meus cadernos antigos e os de Letícia para comprovar que de fato aquela era minha letra, mas quando nos mudamos nos livramos deles. Meus pais nunca prestaram atenção a esses detalhes e certamente ficariam do lado da minha irmã se ela falasse que minha letra era dela. Seu que é absurdo dizer isso, mas meus próprios pais não conhecem nem isso de mim. Como Marcelo disse isso não podia continuar assim. Como seria agora? Já não conseguia raciocinar e nem pensar em um modo de agir...

Um comentário:

José María Souza Costa disse...

Adoro ler, as suas histórias. lerei esse livro inteiro por aqui
Felicidades

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