quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Capítulo 6

Domingo foi um dia tranquilo. Nada demais aconteceu, quer dizer nada que eu possa considerar fora do controle. Hoje quando acordei minha irmã veio tentar conversar comigo de novo sobre assuntos que não a interessa realmente. Dessa vez foi sobre música. Nosso estilo musical sempre foi muito diferente e a cada hora que passa vejo ela se transformando em algo que nunca quis ser, alguém como eu. A única coisa que continua igual é a obsessão pela própria imagem, o espelho, maquiagem e por fotografias principalmente dela mesma. Ontem Letícia tirou tantas fotos na festa que aposto que nem sequer os fotógrafos contratados do evento conseguiram superar. Essa mudança de atitude dela é por causa de Marcelo. Ela sente a necessidade de conquistar garotos que acaba de conhecer e depois os descarta, mas agora estou começando a pensar que é diferente. Ela realmente está gostando dele porque está até fingindo e se comportando como alguém que não é. Só não consigo entender como eu posso ser a modelo para sua nova imagem e como isso pode agradar tanto a Marcelo. Não é que eu me importe, mas se ele gosta tanto da personalidade que minha irmã aparenta mais cedo ou mais tarde ele vai reconhecer que não é apaixonado por ela e sim por mim o que seria bem estranho porque como ele concordou há dias atrás com Letícia mesmo que com gargalhadas, eu sou a garota mais ridícula e sem atrativos que ele conhece. Caso isso acontecesse Marcelo iria perceber que é apaixonado pela minha personalidade, mas pela aparência da minha irmã e não sei como essa situação poderia terminar, mas de modo bom que não seria. Viajei nesses pensamentos e comecei a admitir para mim mesma que nunca poderia ter sido tão paranóica. Isso nunca aconteceria. Deve ser porque chegamos muito tarde ontem e acordei muito cedo hoje ou meus pensamentos podem estar confusos assim por causa da semana agitada que tive. Em sete dias minha vida se transformou completamente, mudei de cidade, conheci outras pessoas, estou enfrentando a mudança repentina de minha irmã, um garoto me chamou para dançar e demonstrou interesse por mim e ainda é o melhor amigo do namorado da minha irmã que é um garoto completamente misterioso que consegue ser extremamente agradável, com gostos tão parecidos dos meus e ao mesmo tempo tão detestável que acredita que minha irmã possui um jeito de ser que não é propriamente dela. O pior de tudo é que ainda meu caderno de anotações desapareceu. Já desisti de procurar e de criar suposições sobre o que pode ter acontecido. Já desconfiei de tudo e de todos, da minha mãe, do meu pai, de Luís e principalmente de Letícia e algo me diz que o sumiço tem haver com ela, seu comportamento estranho a entrega. Posso até não ser inteligente e tirar notas ruins em matemática, mas não sou tão ingênua assim. Para falar a verdade desde pequena sempre gostei de brincar de detetive e assistir aos desenhos em que os personagens desvendam dos casos mais irrelevantes aos mais bizarros. Decidi que começaria a investigando aos poucos para que ela não desconfiasse de nada e como ela está tentando essa maior proximidade comigo seria mais fácil. Eu só precisaria responder com mais clareza e fingir que estou acreditando mesmo na história de que ela está agindo assim porque vai ser bom para o seu futuro na carreira e aos poucos fazer com que indiretamente ela me revelasse algo que a comprometesse e me ajudasse a descobrir se realmente ela está envolvida no desaparecimento do caderno. Depois de tanto pensar e supor sobre os acontecimentos atuais percebi que realmente pudesse estar ficando paranóica e até um pouco dissimulada. Como estava quase na hora do almoço resolvi esquecer um pouco toda essa maluquice e já que não tenho mais meu velho caderno comigo por enquanto resolvi reformar o antigo que estava sendo usado como rascunho para que eu pudesse desabafar comigo principalmente nessas horas em que o turbilhão de sentimentos tomam conta de mim. Não achei nenhum material de customização interessante para o caderno, queria algo bem original. Nunca gostei dessas capas que já vem prontas e que não da para mudar nada. Gosto é de criar, reinventar, ter algo único que eu mesma fiz. Como não encontrei nada resolvi reescrever a mensagem que havia escrito na noite anterior. Quando peguei meu celular me assustei quando vi que eu tinha uma nova mensagem. Era de Gustavo me desejando um bom dia e dizendo que queria muito me encontrar para quem sabe eu não tirar a má impressão que ele mesmo notou que eu tive dele na festa. Como ele havia conseguido meu número? Nem se estivesse mais fora de mim passaria para ele. Logo percebi que com certeza seria Letícia que houvera passado meu número para Gustavo para me irritar um pouco e para mostrar para Marcelo que realmente é uma garota apaixonada que quer ver todos se amando e felizes, ainda mais que se trata do melhor amigo do seu namorado. Não respondi a mensagem, apenas ignorei e abri a pasta de rascunhos onde estava o trecho que queria escrever. Acabei criando um texto sobre tudo que está acontecendo desde que me mudei para cá. Se tudo continuar assim terei assunto até para escrever um livro, pois foi um dos maiores que já escrevi e nem se passou tanto tempo assim. Marcelo, sua mãe e Clara vieram almoçar aqui hoje. Sua mãe Patrícia era até simpática, mas logo notei que ela não dava muita atenção a Marcelo. Quem se importa com ele realmente era Clara que o trata com um carinho tão grande que chega a ser emocionante parar um pouco e reparar no amor que ela tem por Marcelo e ele por ela. Depois do almoço Clara me convidou para passar o resto do dia em sua casa, pois seria bom botar a conversa em dia comigo. Saí bastante irritada quando percebi que a rede em que havia previsto que seria o meu canto preferido para ficar sozinha e ter minhas ideias teria se transformado no “canto romântico” do casal recém formado.
Nem vi o tempo passar na casa de Clara. Cada vez vejo que ela tem mais haver comigo, o jeito de falar, o modo de que enxerga a vida é muito parecido comigo. A única coisa que me incomoda nela é a insistência para que eu me aproxime do seu neto. Como estava com tempo dessa vez expliquei tudo que já havia acontecido, a forma em que o garoto me tratava e detalhes sobre a tentativa frustrada de aproximação do dia em que nos conhecemos. Clara me pediu um voto de confiança e disse que ele não agiu daquela forma por mal, pois desde que seus pais se separaram ele se transformou em uma pessoa mais fechada e agressiva, mas que antes ele era um garoto sonhador, simpático e que gostava bastante de desenhar e agradar as pessoas. Me mostrou algum dos desenhos que o neto fizera anos atrás e me impressionei com o seu talento.Mesmo assim disse a ela que isso não justificava o modo em que ele trata as pessoas,aliás é estranho como trata Letícia e ela tão bem e as outras pessoas com tanta indiferença,até mesmo seu melhor amigo.A senhora disse que essa história é bem complicada de entender e que não me contaria muito sobre o assunto,pois quem deveria me contar seria seu próprio neto Marcelo,ou seja, se depender disso nunca vou conseguir compreender isso totalmente.Quando estava indo embora ela deixou escapar que acha muito estranho o namoro do neto com minha irmã e confessou que imaginou que as coisas justamente ao contrário e que a uma hora dessas quem deveria estar na rede com Marcelo deveria ser eu. Fui bem sincera e disse que no meu modo de ver isso nunca seria possível, pois por mais que tenhamos algumas coisas em comum nós dois somos bem diferentes e que não seria apenas porque ela se simpatizava comigo que eu daria certo com seu neto. Clara se despediu de mim e disse que com o tempo eu entenderia o porquê ela gostaria que Marcelo e eu ficássemos juntos e completou dizendo que mesmo as coisas não tendo saído da forma que ela havia previsto ela podia sentir que muita coisa estaria para acontecer. Clara era tão sensitiva quanto eu e fiquei até apreensiva ao escutar isso. Queria muito continuar aquela conversa, mas precisava ir embora, pois já estava tarde. Disse que voltaria outro dia para continuarmos o assunto, cheguei em casa e assisti há um filme de comédia para aliviar um pouco toda a tensão que estava sentindo.

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