domingo, 25 de dezembro de 2011

Capítulo 2

No caminho para a pequena cidade em que irei morar não parei de pensar por um momento em como seria daqui para frente enquanto olhava as paisagens da janela do carro. Não desgrudei por um momento do meu caderno de anotações que desde pequena me acompanha. Ele contem toda minha história e iria continuar registrando meus dias ainda mais agora que fui deslocada do lugar em que eu já estava acostumada.Perto de mim estava também o meu mp3 com os fones conectados.Uma paixão que tenho além de escrever,é a música que da mesma forma consegue descrever os mais variados sentimentos.Adoro colocar a música bem alta e sair cantando por aí sem me preocupar com nada em volta mas geralmente faço isso quando consigo ficar um pouco sozinha já que meus irmãos vivem reclamando quando começo a cantar e nisso eles tem razão, pois canto muito mal e se eu mesma já acho isso deve ser uma tortura para eles escutarem já que não gostam muita da minha presença mesmo quando estou calada.
Foi uma viagem tranqüila, sem muito diálogo entre nós, mas ninguém podia esconder que o nervosismo junto com a ansiedade tomava conta do ambiente. Chegamos ao bairro novo perto do anoitecer e aos poucos avistei a minha nova moradia. Era uma casa de dois andares bem projetada, modéstia a parte a mais bonita da rua. Tinha um belo jardim e uma varanda grande com uma rede que desde que coloquei os olhos já sabia que seria meu local preferido para ficar sozinha comigo. A vizinhança parecia ser boa e bem unida, pois 10 minutos que havíamos nos instalado fomos surpreendidos pelo toque da campainha e por uma simpática senhora na porta nos dando as boas vindas. Fui dormir bem tarde já que tínhamos muitas coisas a arrumar devido a mudança, mas confesso que toda a minha insegurança e angústia de ter me mudado sumiu quando coloquei a cabeça no meu travesseiro e apreciei meu quarto novo que mesmo não tendo escolhido já que Letícia e Luís haviam pegado os maiores da casa era um bom cômodo, melhor até do que o meu antigo. De alguma forma eu podia sentir que não seria apenas uma mudança de cidade e de casa, antes de adormecer senti que aconteceria uma verdadeira mudança em minha vida.
Apesar de ter dormido tarde acordei bem cedo. Era um dia ensolarado ao contrário do anterior. Fui até a cozinha preparar meu café da manhã e para minha surpresa meus pais estavam sentados na mesa juntos com Luís e Letícia. Me surpreendi porque minha família nunca foi unida,é raro todo mundo estar em casa para sentar a mesa e dividir as refeições como estava acontecendo naquela manhã.Ainda mais em uma terça feira.Deve ser porque meu pai só vai trabalhar no novo escritório a partir de semana que vem e minha mãe que é produtora de eventos ainda não tinha clientes por ali.Até Luís estava se comportando mais humildemente e nem sequer fez alguma piadinha sobre minhas notas em matemática para me envergonhar perto dos meus pais e Letícia não estava se admirando no espelho e passando aquele maldito blush que a fazia parecer uma artista de circo que havia levado dois tapas bem dados em cada uma das maçãs do rosto.Foi um café da manhã bem agradável que eu nunca vivi com essas pessoas.O clima familiar só foi quebrado quando o celular de minha mãe tocou e ela se retirou da mesa para atender,em seguida do meu pai que decidiu terminar de montar os móveis na sala.Sobraram apenas eu e meus dois irmãos na cozinha que agora que meus pais não estavam por perto resolveram tentar me atingir com palavras.Todo mundo sabe que Luís sempre foi influenciado por Letícia apesar de ser mais velho e em breve começar a faculdade de Direito por aqui e como ela sempre implicou comigo ele também fazia o mesmo.
Quem sabe agora Sophia você não larga de ser essa garota sem vaidade e sem nenhum cuidado com você que só fica escrevendo ou olhando para o teto o dia inteiro e tenta ser alguém na vida que seja uma pessoa digna de ser membro dessa família em?– indagou Letícia
Realmente querida, siga o exemplo do seu irmão. Esse ano você entrará no ensino médio e já está na hora de você focar em alguma coisa que te dê futuro. E a sua irmã está certa quanto a sua falta de vaidade, as pessoas custam a acreditar que você é nossa irmã mais nova quando contamos e seria bom você arrumar um namorado para quem sabe não parar de ter esse olhar de pessoa mais solitária do mundo – completou Luís
Apenas me levantei e subi para o meu quarto porque apesar de ser uma pessoa que não abaixa a cabeça e aguenta esse tipo de desaforos e provocações não queria estragar meu primeiro dia naquela cidade com uma discussão que não me levaria a lugar nenhum. Sim, discutir com aqueles dois seria perda de tempo. Enquanto me retirava pude escutar as gargalhadas e comentários ofensivos que faziam sobre mim, mas decidi ignorar, já era acostumada com isso desde pequena. Talvez o mal seja que meus pais nunca se importavam com o que eles faziam apenas os elogiavam para os amigos. O senhor Afonso e a senhora Ruth nunca foram pais presentes, sempre se preocupavam mais com a carreira profissional do que com a vida em família. Quanto mais o tempo passava, mais ocupados eles foram ficando e como sou a mais nova não recebi sequer um pouco da atenção deles e como não me destaco em nada, o pouco de presença deles são meus irmãos que recebem. Não sou de me afetar com o que Letícia e Luís falam mas confesso que ao subir e me olhar no espelho senti um certo mal estar,era como se existisse um vazio dentro de mim que nada poderia preencher.Entrar no ensino médio,com certeza seria uma mudança em minha vida e quando eu menos imaginasse teria que escolher qual profissão seguir,o que é mais difícil para mim porque deveria ser uma profissão digamos “aceitável” para os meus pais.E em questão amorosa,nesses meus 15 anos sobre esse planeta vivi decepção atrás de decepção.Desde pequena a minha irmã já tinha os seus namoros infantis na escola e eu quando não estava escrevendo estava batendo nos meninos que riam de mim e me colocavam apelidos me chamando de feia.Quando virei adolescente isso não mudou.Não brigo mais com os garotos mas os apelidos quem recebe sou eu e toda atenção Letícia.Não que eu me importe realmente mas as vezes incomoda ter que ser sempre ofuscada pela beleza e simpatia da minha irmã.Lá fora ela interpreta o papel de uma garota doce,simpática,disposta a ajudar todos e querer sempre o bem apesar de eu saber que é tudo falsidade pois escuto as coisas horríveis que ela diz sobre seus “amigos”.Letícia sempre participa das melhores festas,já viajou várias vezes com sua agência de modelos e na maioria das vezes auxilia minha mãe na divulgação e produção de eventos que eu também vou apesar de não achar graça nenhuma.Não sei como será a vida dela agora já que essa cidade não possui sede da sua agencia e por isso a encaminhou por uma nova que provavelmente ela visitará depois do almoço.Aliás na parte da tarde,eu resolvi caminhar pela vizinhança para já ir me familiarizando quando de repente encontrei a simpática senhora que nos deu boas vindas ontem a noite.Conversei com ela por bastante tempo.Me disse que se chama Clara e que teve cinco filhos mas que só possui relação com uma filha pois os outros se esqueceram do significado de família preocupados com o trabalho.Me identifiquei muito com ela nessa questão, aliás, em tudo. Sempre tive facilidade de fazer amizade com pessoas mais velhas, mas com Clara senti uma estranha proximidade. Ela me disse que sua filha mais próxima mora na mesma rua que a gente desde que se separou do marido e que ela possui um único filho que deveria voltar amanhã da casa do pai e que seria interessante conhecê-lo. Eu concordei para não parecer mal-educada, mas não senti a mínima vontade de conhecer mais um garoto mimado e metido que com certeza não teria nada em comum comigo. Disse que o conheceria apenas para não render assunto,despedi de Clara pois já estava tarde e voltei para casa.

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