quarta-feira, 25 de abril de 2012

Capítulo 35


- Escuta Sophia. Eu acho que você intromete demais na vida de todos tentando ajudar. Em um ponto você tem razão quando te conheci não me simpatizei mesmo com você, aliás, é da minha personalidade ser assim, ter uma certa dificuldade em achar alguém agradável e me aproximar amigavelmente. Não posso mentir que quando te conheci te achei uma garota estranha e o porque nem eu sei definir bem apenas achei você alguém de certa forma diferente,meio presa a algum medo ou insegurança assim como vocês adoram afirmar que sinto. Quanto à história do caderno, foi muito bom quando o encontrei, pois há muito tempo eu não me prendia a uma leitura que me fizesse sentir tão bem, esquecer de tudo, lendo aquelas frases tão cheias de sentimentos acabou despertando algo em mim que nem sei se um dia eu tive de fato. Também não gostei da sua irmã a princípio, para mim a primeira vista ela não passou de uma patricinha esnobe e interesseira, mas depois de ler aquele caderno sem entender eu pude perceber que talvez as aparências realmente enganassem.
- Você tem todo o direito de não gostar de mim, me achar esquisita. Nunca esqueci o dia que cheguei no quarto e escutei minha irmã me criticando e implicando como sempre e você rindo de mim com ela.E realmente eu era uma pessoa muito insegura,talvez por crescer as sombras de minha irmã,ou por certa insatisfação ou medo da vida.Talvez era por isso que escrevia aquele caderno secretamente,sem meu nome ou nada que evidenciasse para as outras pessoas que o caderno era meu.Porque na verdade eu nunca pensei que um dia ele seria lido por outra pessoa ainda mais alguém assim como você e que minha irmã se aproveitaria dele para comprar mais uma pessoa para sua coleção de objetos vivos assim como fez.A única coisa que nunca entendi e nem sei porque nunca chegamos a ter essa conversa é como você pode acreditar que eu era a farsa e que estava tentando me aproveitar do talento da minha irmã para tentar me parecer com outra pessoa.Escute Marcelo eu posso ser a pior pessoa do mundo mas jamais faria isso. Essa história esquisita e anormal mexeu bastante comigo, eu não conseguia entender e até hoje não consigo o como e o porque. Você agiu super grosso, como age sempre sem ao menos tentar acreditar na verdade. E sei que você pensa que Letícia que escreveu o caderno porque para você é mais fácil lidar com a realidade de que uma garota popular e bonita que é apaixonada por você escreveu algo que mexeu com seus sentimentos mais escondidos do que uma garota que você julga ser estranha e de um mundo tão diferente do seu. Isso ficou claro para mim e para todas as pessoas normais que me eonhecem e sabem do meu dom para escrever, se é que posso chamar assim e a minha letra que Letícia imitou. Se você perceber a sua caligrafia sempre ela acaba voltando a escrever de uma forma parecida com sua verdadeira letra. Mas isso ninguém percebe, muito menos você, afinal porque prestar atenção em um detalhe tão pequeno não é mesmo?
- Aquele dia você tem que concordar que foi muito estranho a maneira que achou de tentar provar que sua irmã havia roubado o caderno. Para mim parecia mais uma vingancinha pessoal e infantil. Havia outras maneiras de você me contar que o caderno era de fato seu, porque realmente seria muito ilógico eu acreditar em uma história tão maluca e surreal assim em que qualquer pessoa em seu juízo perfeito deduziria como ilógica.
- Isso só confirma o que penso. Então você acredita que eu sou a dona do caderno, mas prefere negar isso porque quer continuar namorando Letícia pelas vantagens que isso lhe traz e porque não gosta de mim e achou minha atitude uma simples vingança. Mas eu não me importo com o que pensa. Você acha mesmo que eu gostaria de tramar uma vingancinha ridícula contra minha irmã problemática? Não mesmo, você nem me conhece. Pelo menos admita que sabia da verdade desde o início e só quis continuar com isso,pois sabe que acreditar nessa fantasia é a única coisa que ainda te prende a Letícia,pois sem essa “magia” vocês dois não dariam certo.
- Eu quero deixar bem claro que no princípio não quis acreditar na sua história pelo jeito que você arrumou de me falar...
Nem deixei Marcelo completar a frase e já intrometi.
- Você sabia que quem está se comportando como estranho e infantil é você? Então você acredita nas coisas se o modo de como elas são apresentadas a você te agrada? A gente nunca conversava, você sempre com esse humor desprezível, cego pela história de minha irmã e eu ainda tão imatura em relação ao que sou hoje achei que daquele jeito seria o modo perfeito para recuperar minha integridade na família e ao mesmo tempo te alertar sobre a farsa do seu relacionamento. A boba da história foi realmente eu, aliás, essa história toda é boba e já rendeu demais. Acreditando em mim ou não o importante é que já recuperei o que é meu e agora atingi até um amadurecimento literário maior do que o de antes. Para mim você é dessa forma por conta do trauma que tem por se sentir culpado da separação dos pais e é frio assim porque perdeu seu tio, uma das pessoas que mais te dava força para enfrentar os momentos difíceis de forma rápida e inimaginável.
Nesse momento percebi que havia falando mais do que deveria, mas já era tarde. Clara me olhou surpresa, pois havia prometido guardar segredo sobre o que sabia e Marcelo olhou para a avó e para mim perplexo. Agora com intromissão de Dona Clara a conversa se tornou ainda mais complicada.
- Sophia sabia que não deveria ter te contado tantos detalhes. Não é sua culpa, mas uma hora realmente você iria acabar se esgotando e conversando sobre isso com Marcelo. Talvez se eu fosse mais nova, me irritaria e tornaria a situação ainda mais delicada, mas após tantos anos vividos e por tantas experiências que já passei penso que talvez seja melhor assim. Marcelo, eu sei que você sempre teve uma personalidade, digamos forte, mas você ainda parecia ter uma certa alegria de viver que não enxergo mais em você desde o ocorrido.Sei que foi difícil para você tomar aquela decisão e ver o mundo familiar seguro que tinha desmoronar num simples piscar de olhos.Você era mais novo,não entendia muito bem dessas coisas e acabou achando que era culpado pelo sofrimento de sua mãe,o seu e o do restante do mundo.Você cresceu com essa convicção no subconsciente e hoje reage dessa forma.
- Acho que o assunto já foi longe demais. Sophia e vó, vocês já analisaram demais, tiraram suas conclusões e nem sabem direito o que eu penso. O assunto estava sobre o caderno e Sophia, mas de repente se transformou em algo que diz respeito a mim e meus pais. Eu não esperava que contasse coisas assim pessoais da minha vida para estranhos, a senhora me desapontou muito, minha confiança acabou.
Marcelo saiu da sala mesmo com os gritos de Clara insistindo para que ficasse. Fiquei super mal, pois senti que aquele conflito entre avó e o neto era culpa minha. Para mim aquela conversa não havia acabado ali e agora mais do que nunca precisava entender todo aquele comportamente de Marcelo melhor. Por hora era aquilo quando enfim resolvesse e arrancasse tudo que eu precisava ouvir de Marcelo voltaria à casa de Clara para quem sabe reconquistar a confiança que por um impulso e ansiedade acabei enfraquecendo.

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