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Escuta Sophia. Eu acho que você intromete demais na vida de todos tentando
ajudar. Em um ponto você tem razão quando te conheci não me simpatizei mesmo
com você, aliás, é da minha personalidade ser assim, ter uma certa dificuldade
em achar alguém agradável e me aproximar amigavelmente. Não posso mentir que
quando te conheci te achei uma garota estranha e o porque nem eu sei definir
bem apenas achei você alguém de certa forma diferente,meio presa a algum medo
ou insegurança assim como vocês adoram afirmar que sinto. Quanto à história do
caderno, foi muito bom quando o encontrei, pois há muito tempo eu não me
prendia a uma leitura que me fizesse sentir tão bem, esquecer de tudo, lendo
aquelas frases tão cheias de sentimentos acabou despertando algo em mim que nem
sei se um dia eu tive de fato. Também não gostei da sua irmã a princípio, para
mim a primeira vista ela não passou de uma patricinha esnobe e interesseira,
mas depois de ler aquele caderno sem entender eu pude perceber que talvez as
aparências realmente enganassem.
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Você tem todo o direito de não gostar de mim, me achar esquisita. Nunca esqueci
o dia que cheguei no quarto e escutei minha irmã me criticando e implicando
como sempre e você rindo de mim com ela.E realmente eu era uma pessoa muito
insegura,talvez por crescer as sombras de minha irmã,ou por certa insatisfação
ou medo da vida.Talvez era por isso que escrevia aquele caderno
secretamente,sem meu nome ou nada que evidenciasse para as outras pessoas que o
caderno era meu.Porque na verdade eu nunca pensei que um dia ele seria lido por
outra pessoa ainda mais alguém assim como você e que minha irmã se aproveitaria
dele para comprar mais uma pessoa para sua coleção de objetos vivos assim como
fez.A única coisa que nunca entendi e nem sei porque nunca chegamos a ter essa
conversa é como você pode acreditar que eu era a farsa e que estava tentando me
aproveitar do talento da minha irmã para tentar me parecer com outra
pessoa.Escute Marcelo eu posso ser a pior pessoa do mundo mas jamais faria
isso. Essa história esquisita e anormal mexeu bastante comigo, eu não conseguia
entender e até hoje não consigo o como e o porque. Você agiu super grosso, como
age sempre sem ao menos tentar acreditar na verdade. E sei que você pensa que
Letícia que escreveu o caderno porque para você é mais fácil lidar com a
realidade de que uma garota popular e bonita que é apaixonada por você escreveu
algo que mexeu com seus sentimentos mais escondidos do que uma garota que você
julga ser estranha e de um mundo tão diferente do seu. Isso ficou claro para
mim e para todas as pessoas normais que me eonhecem e sabem do meu dom para
escrever, se é que posso chamar assim e a minha letra que Letícia imitou. Se
você perceber a sua caligrafia sempre ela acaba voltando a escrever de uma forma
parecida com sua verdadeira letra. Mas isso ninguém percebe, muito menos você,
afinal porque prestar atenção em um detalhe tão pequeno não é mesmo?
-
Aquele dia você tem que concordar que foi muito estranho a maneira que achou de
tentar provar que sua irmã havia roubado o caderno. Para mim parecia mais uma
vingancinha pessoal e infantil. Havia outras maneiras de você me contar que o
caderno era de fato seu, porque realmente seria muito ilógico eu acreditar em
uma história tão maluca e surreal assim em que qualquer pessoa em seu juízo
perfeito deduziria como ilógica.
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Isso só confirma o que penso. Então você acredita que eu sou a dona do caderno,
mas prefere negar isso porque quer continuar namorando Letícia pelas vantagens
que isso lhe traz e porque não gosta de mim e achou minha atitude uma simples
vingança. Mas eu não me importo com o que pensa. Você acha mesmo que eu
gostaria de tramar uma vingancinha ridícula contra minha irmã problemática? Não
mesmo, você nem me conhece. Pelo menos admita que sabia da verdade desde o
início e só quis continuar com isso,pois sabe que acreditar nessa fantasia é a
única coisa que ainda te prende a Letícia,pois sem essa “magia” vocês dois não
dariam certo.
-
Eu quero deixar bem claro que no princípio não quis acreditar na sua história
pelo jeito que você arrumou de me falar...
Nem
deixei Marcelo completar a frase e já intrometi.
-
Você sabia que quem está se comportando como estranho e infantil é você? Então
você acredita nas coisas se o modo de como elas são apresentadas a você te
agrada? A gente nunca conversava, você sempre com esse humor desprezível, cego
pela história de minha irmã e eu ainda tão imatura em relação ao que sou hoje
achei que daquele jeito seria o modo perfeito para recuperar minha integridade
na família e ao mesmo tempo te alertar sobre a farsa do seu relacionamento. A
boba da história foi realmente eu, aliás, essa história toda é boba e já rendeu
demais. Acreditando em mim ou não o importante é que já recuperei o que é meu e
agora atingi até um amadurecimento literário maior do que o de antes. Para mim
você é dessa forma por conta do trauma que tem por se sentir culpado da
separação dos pais e é frio assim porque perdeu seu tio, uma das pessoas que
mais te dava força para enfrentar os momentos difíceis de forma rápida e
inimaginável.
Nesse
momento percebi que havia falando mais do que deveria, mas já era tarde. Clara
me olhou surpresa, pois havia prometido guardar segredo sobre o que sabia e
Marcelo olhou para a avó e para mim perplexo. Agora com intromissão de Dona
Clara a conversa se tornou ainda mais complicada.
- Sophia
sabia que não deveria ter te contado tantos detalhes. Não é sua culpa, mas uma
hora realmente você iria acabar se esgotando e conversando sobre isso com Marcelo.
Talvez se eu fosse mais nova, me irritaria e tornaria a situação ainda mais delicada,
mas após tantos anos vividos e por tantas experiências que já passei penso que
talvez seja melhor assim. Marcelo, eu sei que você sempre teve uma personalidade,
digamos forte, mas você ainda parecia ter uma certa alegria de viver que não
enxergo mais em você desde o ocorrido.Sei que foi difícil para você tomar
aquela decisão e ver o mundo familiar seguro que tinha desmoronar num simples
piscar de olhos.Você era mais novo,não entendia muito bem dessas coisas e
acabou achando que era culpado pelo sofrimento de sua mãe,o seu e o do restante
do mundo.Você cresceu com essa convicção no subconsciente e hoje reage dessa
forma.
-
Acho que o assunto já foi longe demais. Sophia e vó, vocês já analisaram
demais, tiraram suas conclusões e nem sabem direito o que eu penso. O assunto
estava sobre o caderno e Sophia, mas de repente se transformou em algo que diz
respeito a mim e meus pais. Eu não esperava que contasse coisas assim pessoais
da minha vida para estranhos, a senhora me desapontou muito, minha confiança
acabou.
Marcelo
saiu da sala mesmo com os gritos de Clara insistindo para que ficasse. Fiquei
super mal, pois senti que aquele conflito entre avó e o neto era culpa minha.
Para mim aquela conversa não havia acabado ali e agora mais do que nunca
precisava entender todo aquele comportamente de Marcelo melhor. Por hora era
aquilo quando enfim resolvesse e arrancasse tudo que eu precisava ouvir de
Marcelo voltaria à casa de Clara para quem sabe reconquistar a confiança que
por um impulso e ansiedade acabei enfraquecendo.
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