segunda-feira, 23 de abril de 2012

Capítulo 34

Quando cheguei na casa de Dona Clara,ela parou de fazer o bordado no pano de prato que uma vizinha havia encomendado por gostar bastante de sua costura e me recebeu com um belo sorriso estonteante.
- Sophia. Quanto tempo você não vem me visitar. Sei que depois da volta às aulas você ficou mais ocupada e com o início do namoro mais ainda, mas isso não há razão para você sumir e deixar de dar notícias mocinha. – Dona Clara disse com aquele jeito amigável e jovem de sempre. Apesar da idade um já um pouco avançada, a senhora, tem mais ânimo e vontade de viver do que muitos jovens que eu conheço.
- É verdade, você tem razão. Estou em falta com a senhora, não há motivos para sumir assim, mas é que com tanta coisa acontecendo eu acabo me perdendo no meu próprio tempo.
- Aprenda uma lição Sophia. Você não pode ser escrava do seu próprio tempo. Não pode deixar de se cuidar ou fazer coisas que gosta e que são importantes para você para se adequar no tempo ditado pelo mundo. Você precisa se organizar, estabelecer suas prioridades, tirar um tempo para você e viver mais tranqüila e isso inclui vir me visitar mais vezes. – disse a senhora me intimidando a ir em sua casa frequentemente, porém de um jeito doce e cativante que ela sempre tem.
Pensei bastante na lição de Dona Clara sobre o tempo. Muitas vezes acabo me sacrificando para me adequar sempre a ele e acabo ficando escrava do tempo. Pelo menos tenho a sorte de pelo menos não por agora ou que eu saiba de ser escrava das dimensões do tempo. Tem pessoas que vivem com lembranças do passado que assombram o presente afetando o futuro, outras vivem tão intensamente o agora que esquecem que é preciso sim se preocupar de maneira saudável com planos para o futuro e há aquelas que vivem pensando tanto em quem se tornarão e como será o futuro que acabam esquecendo de viver o próprio agora.Para se ter uma vida boa é preciso haver o equilíbrio entre esses três tempo e isso Dona Clara sabia fazer muito bem.
Conversamos um pouco de tudo. Contei todas as novidades do colégio, dos novos moradores Washington e Renata, obviamente do meu namoro com Gustavo que ia cada vez melhor, do concurso e do projeto do blog. Dona Clara ficou muito feliz em ver todo o meu entusiasmo. A conversa ia muito bem quando de repente Marcelo chegou na casa de Dona Clara e como já era de se suspeitar o clima ficou estranho.Dessa vez a avó de Marcelo resolveu interferir e o obrigou a sentar conosco e participar da conversa.
- Marcelo, meu neto. Venha sente-se aqui comigo e com a Sophia. Estamos tendo um papo tão agradável.
- Obrigada vó, mas não poderei demorar, só passei aqui mesmo para ver como a senhora estava. Em outra hora quando eu não estiver ocupado volto aqui e fico mais tempo.
Eu sabia que aquilo era apenas uma desculpa. Ele com certeza não esperava me encontrar ali e resolveu arranjar um jeito de ir embora para não ter que me ter como companhia. Sinceramente, por mais que ele tenha problemas e que não seja tão sociável assim gostaria de entender o porque ele me odeia tanto e resiste tanto a me dar um simples “oi” naturalmente. Desde o início ele vem me evitando mais do que faz com as outras pessoas, acredita em uma história impossível sobre um roubo de caderno e falsificação de letra por minha parte inventada pela mente problemática de Letícia em que até qualquer criança de 5 anos poderia compreender e deduzir a verdade caso alguém a contasse. Pensei que estava na hora de entender o real motivo de toda essa antipatia. A ideia do concurso até poderia ajudá-lo, mas até o resultado ser divulgado ainda levaria um tempo e eu não podia mais agüentar a situação. Clara também além de não gostar, parecia não compreender e estava disposta a tentar mudar essa relação entre mim e Marcelo e acabou sendo bem direta.
- Olha Marcelo,sua avó pode até ser mais de idade,mas não é por isso que ficou boba e deixou de perceber as coisas ao redor. Não é de hoje que percebo essa alta de afinidade e esse clima ruim entre você e Sophia e honestamente não consigo entender o porque, aliás desde que se conheceram você reage assim. Eu sei da história absurda do caderno de anotações de Sophia e sei que você também não acredita em que Letícia é a verdadeira autora porque já convive com ela a algum tempo.Caso seja tão iludido e enganado assim a ponto de acreditar nessa realidade paralela sente-se um pouco e verá como essa garota sabe usar as palavras,ajudar e encantar o mundo. Sente-se e desabafe tudo que eu sei que você sente em relação a separação de seus pais que te afetou tanto.Sei que não deveria falar dessa forma e nem gostaria pois esse assunto é muito delicado mas se isso não ser tratado logo você acabará se tornando uma pessoa fria e sozinha e não quero isso para o neto que amo tanto. Por isso como sua avó quero que sente-se aqui agora perto de mim e Sophia para conversarmos e tirarmos todas as dúvidas e essa história a limpo de uma vez por todas.
Fiquei chocada com a reação de Dona Clara. Nem foi necessário a minha própria reação. Nunca tinha a visto falar daquele jeito, mas penso que como eu ela havia cansado do comportamento do neto que é tão importante para ela. As cenas daquela conversa que com certeza seria longa era imprevisível e estava me deixaram angustiada.
Com os olhos arregalados e irritado Marcelo seguiu a ordem da avó e sentou-se com um pouco de resistência perto de mim. Notei que ele estava sim magoado e constrangido por eu estar ali quando Clara disse sobre o seu trauma da separação dos pais. Percebi ao mesmo tempo que ali havia um garoto assustado e desamparado que só queria ser comprrendido e amparado.
E do nada comecei a dar gargalhadas na sala para o espanto de Clara e para o ódio de Marcelo. É, comecei a rir porque fiquei tão nervosa e tão feliz por saber que talvez toda aquela confusão com Marcelo finalmente terminaria que comecei a gargalhar e eu ria alto com vontade,deixando a ideia que estava rindo daquela situação quando na verdade era minha estranha mania de rir quando fico muito nervosa. E certamente, Marcelo se manifestou indignado e com razão pois acho que no lugar dele eu faria a mesma coisa.De certo modo meu ataque de risos quebrou o clima tenso mas estragou o nível da conversa que se poderia ter. Por outro lado foi bom ter quebrado o silêncio daquela forma, pois isso fez Marcelo chegar ao seu limite e ao me xingar acabou desabafando tudo e fazendo revelações que eu jamais pensei em escutar um dia... 

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