quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Capítulo 27

É engraçado como as pessoas parecem mudar quando se trata de algo belo. Vemos casos desastrosos de morta na televisão em que as pessoas dizem: “Como puderam matar tal pessoa? Ela é tão bonita” O fato é que o mundo de hoje é superficial e isso vai tomando mais conta de nós a cada instante. Tentamos nos adequar as tendências para que dessa forma possamos nos sentir melhor. E quanto a minha transformação eu com certeza serei interpretada dessa forma ainda mais por Gustavo e Letícia. Letícia com todo seu veneno dirá que mudei para tentar me encaixar aos padrões e para tentar conquistar Marcelo. Eu pensei em todos os detalhes anteriormente e sabia que isso poderia sim acontecer, mas o que importa é que eu sei que fiz tudo isso para me sentir melhor, para me descobrir e posso sentir que estou bem e o resto e as pessoas não importam. Porque é assim que funciona, as pessoas sempre irão falar bem ou mal, não há uma maneira de se privar disso, não há como nunca ter o nome da boca de alguém, você não pode é se deixar privar de viver por causa das pessoas. Confesso que estava a dias atrás caminhando para essa fase mas ainda bem que ao invés de me entregar ao sofrimento e descontentamento resolvi me reinventar e bem interpretado ou não é assim que será.
Gustavo e eu estávamos ali no shopping sem ao certo saber o que dizer mas ao mesmo tempo sabíamos que havia muito a ser dito e esclarecido. Eu respondi ao seu elogio meio sem graça e estava um pouco decepcionada pelo seu atraso e por quase ter desistido de me encontrar. Mas lamentar por isso não era o melhor a ser feito agora, nós precisávamos mesmo era nos entender.
- Obrigada Gustavo, eu precisava mesmo disso. Ainda bem que você veio, não acho que fugir ou desistir seja a melhor opção. Não era você que não era implicante e completamente insistente? O que está acontecendo? Não acho que o que eu disse seja assim tão grave a ponto de você mudar de comportamento tão repentinamente.
- É eu sei Sophia. Por isso estava sem graça de te atender e vir falar com você, mas vi que fugir realmente não seria a melhor opção. Sou implicante e insistente não é mesmo? Me desculpa por aquele dia, acho que te interpretei mal mas é porque eu não queria ouvir coisas desacreditadas sobre meu respeito ainda mais de você. Eu meio que programo como será o dia na minha cabeça, mas esqueço que não tenho o controle das pessoas.
- É verdade, ninguém pode controlar ninguém. Nós mesmos não nos controlamos de fato, somos movidos pelas nossas angústias, alegrias, experiências de vida, expectativas e inseguranças e quando vemos já perdemos o controle total da vida. Me desculpa, mas acho que realmente aquele dia me expressei mal. Não quis dizer que não acreditava e que você usava o mesmo discurso com todas, mas sei lá acho que a confiança é algo que se conquista com o tempo e a dúvida as vezes toma conta de nós, principalmente de mim que questiono demais e falo o que penso na maioria das vezes.
- Mas isso não justifica me acusar assim. Mas não quero discutir sobre isso e preciso dizer que a maneira como você fala, que enxerga a vida me encanta. Da mesma forma vejo em seus olhos alguma coisa que não sei bem o que é e isso me instiga. Parece que você se priva do mundo em muita coisa, esconde muita coisa de que é e talvez seja até por isso que transcreva tudo no caderno. Como um mundo particular em que você pode ser você mesma. E falando em ser você mesma, vejo que você está de um visual diferente, mas que não faz muito seu estilo que conhecia. Porque essa mudança? Está querendo ser algo que não é?
- Não é bem assim Gustavo. Olhe ao seu redor as pessoas mudam o tempo todo. Uma atriz está com um corte de cabelo em um dia e no outro já mudou completamente para um novo papel. Eu senti que precisava mudar algo, me redescobrir me reinventar, mas claro sem perder o que eu sou. É que a vida já estava pesada demais, bastante complicada e levei isso como uma forma de renovar os meus ânimos.
- Devo admitir que esse visual lhe caiu muito bem. Não consigo parar de olhar para você. Acho que começamos errado desde o início. No dia da festa aquela minha insistência sem sentido para conversar com você, o dia que fui de surpresa em sua casa, o nosso primeiro beijo não esperado pelo menos não para você, o encontro em que tivemos na sua rua quando seu pai nos encontrou e eu o enfrentei, o dia da sorveteria em que fui embora sem dar explicação. Acho que é minha falha mesmo, queria que as coisas entre nós dois acontecessem rápido demais e não percebi que você tinha seu próprio tempo. Eu mal deixei você respirar e quando você tem algo a dizer eu não escuto e vou embora. Sophia eu quero muito ficar com você, quero estar contigo e enfrentar toda essa situação que você passa contigo. Sei que sua família é meio problemática, conviver com seus irmãos não é fácil e ter pais tão ausentes que não sabem nem ao menos como é sua letra não é agradável e acho que se eu fosse você no seu lugar não teria tanta garra e um jeito tão envolvente como o seu. Você ainda não me disse o que queria dizer e nem porque se priva tanto do mundo real. Não adianta negar estar dentro dos seus olhos e eu posso enxergar.
- Está bem, acho melhor te contar mesmo. Você não é a pessoa em que digamos gostei de cara. Para mim de início você era como Letícia e Marcelo. Pessoas que simplesmente nasceram para tornar da minha vida um pesadelo. Não sei o que foi acontecendo com o tempo, não sei se foi no dia do nosso primeiro beijo ou no dia que enfrentou o meu pai e me defendeu, ou qualquer outro dia, mas eu passei a sentir uma necessidade de te ter comigo, uma vontade de desabafar assim com você. Da mesma forma você bagunça meus pensamentos, é uma desordem emocional. Na mesma hora que penso mal de você já estou pensando bem e assim meus pensamentos vão se misturando. Alías, não é só com você, é com tudo ao meu redor e agora mais do que nunca. Não sei se é porque moro aqui há pouco tempo, mas comecei a pensar que minha vida é um verdadeiro nada. Luís e Letícia sempre tiveram e terão histórias para contar. Mas e eu? Eu não passo da ovelha negra da família, sem qualquer talento, desajustada do mundo que tem apenas um simples caderno de anotações que de repente trouxe tanta confusão e descrença nas palavras que eu digo. As palavras que eu escrevo se debatem com as que eu falo e no meio dessa confusão é como se eu mesma perdesse minhas palavras.
- Eu sei como você se sente Sophia. Mas não deixe isso te atingir assim, se privar de tudo e viver nessa eterna atmosfera de confusão que eu vejo que você vive. Você é mais do que isso tudo e eu já disse para você parar de se menosprezar. O seu caderno só traz tantos problemas para você porque é incrível, o modo como você usa as palavras comove qualquer um, até a mente mais perturbada como a Marcelo. Se eles não acreditam em você ainda é porque não adquiriram uma certa maturidade ou estão perdido dentro deles mesmos. Mas indiferente de tudo Sophia eu quero que saiba que eu me importo com você e que estarei contigo para o que der e vier, te escutarei e tentarei de entender até quando isso não é possível pois admita as vezes nem você consegue ao mesmo se entender. Mas já que estamos aqui e agora juntos conversando, dizendo tantas coisas, é o momento para que reiniciamos nossa história e nos esquecemos do resto das pessoas pois elas não tem nada haver com a nossa vida. Você mesma disse que fez essa transformação para se reinventar, para buscar algo novo então vamos começar algo novo agora. Quer namorar comigo?
É estranho, mas as palavras de Gustavo me acalmam, me deixam sem reação. Elas rebatem com as minhas e nessas horas eu me esqueço dos dias, cobranças, esqueço tudo que penso. Quanto mais o tempo passa e quanto mais conheço Gustavo vejo que minha primeira impressão dele foi errada e que devemos sim ficar juntos. Quanto ao resto das pessoas, meus pais, Letícia, Luís e quem mais que seja, eles não tem nada haver com isso e se precisar mesmo pensar neles que seja depois, não agora, pois naquele momento eu finalmente tinha entendido o que eu tinha que fazer. Respondi a Gustavo:
- Aceito namorar com você e no futuro a gente pensa depois!
Eu e Gustavo nos beijamos e aquele momento, ou melhor, aquele dia foi inesquecível. Uma nova fase havia começado. 




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